É um livro leve e solto que a gente lê como quem curte um filme de aventuras. Não é nada denso como homens se transformando em insetos nem insights impactantes no quarto de empregada. Nele, a sabedoria e a leveza se oferecem como frutas frescas sobre a mesa.
A aventureira é uma americana de trinta e poucos anos que passa por uma crise no seu casamento quando descobre que não é bem isso que queria da vida. E agora? Como comunicar isso ao marido com quem tinha feito planos de adquirir patrimônio e ter filhos? Evidentemente, o rapaz não ficou nada feliz com essa repentina mudança de rumos.
Ciente de que não poderia sair do casamento sem causar um estrago no coração do marido, sentia-se como se estivesse embaixo de uma pedreira prestes a desmoronar, ou melhor, como se estivesse derrubando um pedreira sobre alguém.
Certa noite, profundamente amargurada, ajoelhada em prantos no chão do banheiro, compreendeu repentinamente que precisava entregar todo esse peso a alguém ou algo mais forte do que ela.Algo do qual ouvira falar mas que até então só existia no puro estado de possibilidade: Deus.Esse ser todo poder e bondade que toma conta de nós. Deus é simples e concreto quando abrimos o coração.
Foi o que me seduziu neste livro. Um vôo para Deus. No início, foi difícil para nossa aventureira, com toda aquela história de culpa e depressão, mas foi tamanha a sua capacidade de entrega que alçou vôo e planou como uma gaivota sobre o mar.
Ela é dotada de um forte impulso para a mudança e estendeu sua busca para círculos sociais e culturas radicalmente diferentes de sua cultura natal. Seguiu a intuição e fez das viagens espécie de iniciações onde foi em busca de respostas para suas questões.
O pensamento moderno é predominantemente materialista e não tem muita boa vontade para com a fé. Não é à toa. As religiões, com sua profusão de traços culturais e engodos propositais, não são propriamente o paraíso da sensatez. Privilégios sacerdotais, guerras sangrentas, sede de poder são um pequeno resumo de quanta loucura as religiões produziram.São despotismos, arbitrariedades e mentiras que suscitam questionamentos muito naturais. Sou a primeira a tirar o chapéu para a coerência desses questionamentos. No entanto, misturar Deus com essa confusão é contaminar uma boa questão com uma resposta tola. Deus simplesmente é. As confusões, somos nós que fazemos.
Comer, rezar, amar também poderia se chamar a história de como a evolução e a modernidade não estão em contradição com fé.Estadia num Ashram, técnicas de meditação, amizade com um xamã polinésio são alguns dos temas das aventuras. Experiências vividas com alma e confiança por alguém que descobriu um banquete espiritual e bebeu e comeu obtendo uma cura profunda, saudável e duradoura.Não, não é tão difícil assim. Também não é preciso viajar para a Itália, nem India, nem Polinésia. A Divindade está sempre aqui mesmo onde nós estamos.É só querer, "ter olhos de ver e ouvidos de ouvir". A viagem da fé pede um certo fôlego, mas não é inviável. Dentro de nós todos os veículos, portos e estações.
Comer rezar amar
Elizabeth Gilbert
Comer rezar amar
Elizabeth Gilbert
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