no meu dia que finda

mas a esperança me incomoda
como areia na garganta
vidro moído e rascante
mordo pão com mortadela
teu rosto é como um desgosto
ondulando no éter
holografia desinibida
ofendendo minha paixão descuidada
com insistência e desafeto
meu rosto não está desfeito em brumas
está concreto e avisado
que viagem de paixão
só tem bilhete de ida
e não dá prêmio de volta
teu rosto é silêncio e pronto
é ovo sem ter galinha
é o dito pelo não dito
o que quase nunca é dito
eu me assusto e solto um grito mudo
quero ver teu silêncio
correr para o meu grito mudo
se encontrarem atrás do meio-dia
nas frestas do ar
na coloração do olhar
nas pontas dos dedos
não quero obedecer aos apelos do medo
por isso acordo mais cedo
e faço um poema para cutucar
uma massa enorme de lembranças
e asso no forno
para fazer um pão
com gosto do teu rosto
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