Jack Kerouac já não me é tão desconhecido assim. Até agora li
"Os hipopótamos" e estou terminando "Vagabundos iluminados". Este último me parece bem melhor. Tom de leveza e diversão.Particularmente eu gostei muito disso. Existe sim, um gosto, um sabor especial em achar algum sentido na vida . Assim como se de repente uma ficha caísse e preenchesse algum lugar dentro de nós. Uma sensação de que duas pontas de um circuito fossem interligadas. E aí o que antes era vazio agora está preenchido de um jeito um tanto quanto consistente. Creio que o trecho abaixo ilustra o que eu tentei expressar:
"Seguimos em frente, e me senti imensamente feliz pelo fato de a trilha ter uma espécie de aparência imortal, naquele já começo de tarde, pelo modo como a encosta coberta de capim da colina parecia estar imersa em uma nuvem de pó de ouro antigo, e os insetos se agitavam sobre as pedras e o vento suspirava em passos de dança brilhantes sobre as rochas aquecidas, e pela maneira como a trilha de repente entrava em uma parte fresca e sombreada com árvores altas que se erguiam , e ali a luz era mais profunda".
O conflito e a crítica têm seu lugar. Romances densos são interessantes e podem ser bastante ricos. Mas o que seria de nós pobres leitores, se de vez em quando alguém não lembrasse de escrever um livro que apenas divertisse? Leveza, alegria e prazer não comprometem a qualidade estética (putz, acho que alguns autores pensam que sim).
Em ambos os romances o ambiente é muito importante, uma vez que ele quase não muda. É assim como se fosse a coloração da narrativa. Em "Vagabundos iluminados" a natureza verde e viçosa das montanhas foi uma escolha feliz. Confesso que achei aquela peregrinação de bar em bar do "Os hipopótamos" meio enjoativa. Fruto talvez da minha pouca atração pelos bares.
Até onde entendi o tema do livro é qualquer coisa que possamos chamar de felicidade ou pelo menos bem estar. Não se trata de receitas. Ele não diz: " Vá para a montanha, caro leitor, e serás feliz". A declaração dele é mais "eu fico feliz numa montanha, eu fico feliz fazendo isso e aquilo". Trata-se do que é ser feliz para ele. Ray Smith é feliz como quer ou pode, ou até onde quer ou pode. Se a gente ver bem, isto é o oposto de recomendações ou doutrinas, ou sei lá o quê. A felicidade é tão pessoal, mas tão pessoal, que só pode ser uma pessoa consigo mesma. Os personagens principais são vagabundos andarilhos que vivem num barraco, não acreditando em dinheiro, emprego, status social etc. Embora a crítica contra estes valores seja até profunda, não há uma construção literária com esse discurso. Literariamente ele não toma esse caminho, o que poderia resultar um texto repetitivo e talvez sem impacto. Felizmente aqui nesta esquina ele faz um desvio oportuno e esquece esta vertente. Afinal, quem pode definir o que é conveniente, certo ou errado nesta vida? Quem terá respostas para nossos dilemas sejam eles de quaisquer natureza? Há pessoas felizes ou infelizes por aí sejam elas vagabundos, andarilhos, burgueses, místicos, materialistas, etc.Muito menos eu posso acrescentar nesta felicidade de Smith e Japhy o que eles mesmos nunca disseram: que felicidade é não chorar, não passar necessidades, não ter a vida cheia de lacunas. Esses personagens, ao contrário, não alimentam muitas expectativas de viver nesta situação. Aí seria mais acomodação que felicidade.
Os personagens principais, Ray Smith e Japhy Ryder, relatam uma adesão ao Budismo, desejam o Nirvana, se dizem bodisatvas ou "Vagabundos do Darma".
O que começo a pensar é que talvez a literatura Beatnik prega viver como grande religião ou filosofia. E nesta religião há momentos marcantes em que a gente vê que não há respostas. Ou pelo menos elas não estão prontas e muito menos uma resposta pode servir para todos.
Os vagabundos iluminados
Jack Kerouac
OI AMORA LYS,
ResponderExcluirnão lí mas, depois desta sua sinopse, não dá para resistir.
Um abração carioca.