Meu caso pessoal
Lembro-me que quando criança, vivia num ambiente em que as pessoas falavam muito sobre automóvel. Falavam, porque ter mesmo, poucos podiam. Era um falatório só. De vez em quando, alguém conseguia comprar um, aí quase virava rei. Era o centro das atenções. Bem, não sei se a pessoa ou o carro.
Quanto a mim, nunca me passou pela cabeça ter um automóvel. Não queria nem deixava de querer. Não curtia ansiedades sobre se algum dia seria ou não a feliz proprietária de um automóvel. Eu até tinha sonhos para a minha vida de adulto. Profissão, família, relacionamentos, várias coisas. Mas carro não. Pra dizer a verdade nunca achei muito racional veículos particulares numa metrópole. Pelo menos, não como ele é usado. Não que eu tenha alguma implicância com o automóvel. Sempre gostei dos passeios de carro, de ver a paisagem se afastando pela janela, do vento no rosto, das poltronas confortáveis e macias ( Já esse deslumbramento que há em torno do automóvel como símbolo de status, acho besteira mesmo).
Se nunca fui radicalmente contra automóvel, por que tenho vivido anos e anos andando de ônibus? Nem eu sei. Quando jovem era a convicção de que as cidades deveriam ter transportes coletivos de qualidade. Depois foi mais isso e mais aquilo. Até que um dia, indo de uma escola para outra, sacolejando dentro de um ônibus, com uma sacola cheia de diários e provas, a clareza me veio de repente. Meu Deus, preciso de um carro!
Não abri mão de minhas convicções, mas temperei-as com algum amadurecimento. Não há convicção que aguente trinta anos de ônibus lotado! Ainda mais quando não se faz nada pelas ditas cujas convicções. Enquanto eu namorava a minha utopia com transportes coletivos a quantidade de automóveis nas ruas foi multiplicada vezes sem conta, de modo que hoje, eu não só tenho que andar de ônibus como enfrentar engarrafamentos. E depois do insight? Continua tudo no mesmo porque o pouco que consegui aprender a dirigir, não dá para passar na prova do detran.
Tomara que o post esteja engraçado porque a vivência está meio dramática. Hoje, olhando para trás, o que vejo é uma incapacidade da minha parte de equilibrar idealismo e sobrevivência. Agora, sou da opinião de que é melhor pensar em algo para denunciar a má qualidade dos transportes coletivos e comprar um carro. Legal que eu tenha consciência ambiental, mas não conquistei nada nem para mim nem para a cidade só com o cansaço das pernas. Não houve mérito algum na minha quase indiferença pelo automóvel mas incapacidade de encontrar um foco, uma estratégia para exercer minha maneira de ser e pensar. Estou pagando um preço alto por nada. Anos e anos sob sol, chuva e outras dificuldades é um preço "salgado". Tive até prejuízos em saúde. Não politizei minhas escolhas nem soube achar um veio reivindicatório para minhas idéias. Isso é somente sofrer, auto exclusão do bem estar, falta de auto amor, de saber se observar, suprir as próprias necessidades e cuidar de si mesmo.
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