Alguém pode me perguntar "Por que Charlie Chaplin hoje?", já que o assunto do momento é a suposta morte de Osama bin Laden. Bem, não que haja algum motivo especial. Para mim, todo dia é dia de Charlie Chaplin.
Aproveito e uso um viés maravilhoso: A poesia de Carlos Drummond de Andrade.
Neste poema CDA, escreve a respeito do quanto os filmes de Chaplin ajudaram-no a crescer e a viver alimentando seus sonhos e sua proposta de colaborar para a paz da humanidade.
Para mim é uma oportunidade juntar os dois. São dois artistas divinos. O talento e a criatividade deles não tem limite. Cada obra, tanto de um quanto de outro, são jóias preciosas onde o melhor do sentir e do pensar se adicionam e se combinam bela e harmoniosamente. São obras primas que expressam os valores mais positivos da vida, como amor, paixão, afeto, fraternidade, doçura e poesia.
Canto ao homem do povo Charlie Chaplin
Era preciso que um poeta brasileiro,
não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa,
girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver
como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos,
era preciso que este pequeno cantor teimoso,
de ritmos elementares, vindo da cidadezinha do interior
onde nem sempre se usa gravata mas todos são extremamente polidos
e a opressão é detestada, se bem que o heroísmo se banhe em ironia,
era preciso que um antigo rapaz de vinte anos,
preso à tua pantomima por filamentos de ternura e riso dispersos no tempo,
viesse recompô-los e, homem maduro, te visitasse
para dizer-te algumas coisas, sob color de poema.
Para dizer-te como os brasileiros te amam
e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece
com qualquer gente do mundo __ inclusive os pequenos judeus
de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos,
vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem
nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia,
e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor
como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.
...............................................................................................................................
Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duras horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
visitemos no escuro as imagens __e te descobriram e salvaram-se.
Nenhum comentário:
Postar um comentário