Lembro-me bem daquele dia distante lá na Ilha do Governador. Eu tinha mais ou menos 13 anos, mas o evento está muito vivo na minha lembrança. Os adultos resolveram levar a criançada à praia. Lá chegando, deparamo-nos com um ritual de Umbanda. Fiquei hipnotizada olhando uma médium que fazia um transe de Iemanjá. Quedei muito admirada diante daquela pessoa fora de si, mas não desgovernada; ao contrário, dançando e gesticulando movimentada por uma força que parecia maior do que ela. Eu ali num encantamento só. Tudo magicamente sedutor. A música, as roupas brancas, a energia que pairava sobre os médiuns em transe, o ritmo dos atabaques.
Bem verdade que a minha volta ninguém parecia perceber nada disso. Até onde entendi, o ritual não foi significativo para mais ninguém. Os adultos compenetrados em distribuir pão com mortadela e impedir que a garotada aprontasse..
Mais para o final da tarde tanto o ritual quanto o nosso passeio acabaram. voltei para casa com aquelas imagens na retina. Décadas depois a visão das pessoas dançando ainda povoavam minha imaginação. Até procurei em alguns terreiros a magia daquele antigo ritual. Porém, não tive muito êxito. As experiências não foram positivas. Eu continuava encantada com os Orixás e sabia que o som dos atabaques era muito conhecido da minha alma, mas não fiz nada acontecer. Hoje compreendo que não confiei no meu coração (andava muito atrasada na arte de seguir esta bússola).Os anos foram passando e eu já havia desistido dos Orixás, quando a mão do acaso, num gesto de generosidade levou-me até a "Cabana do Pai Miguel das Almas."
A Cabana do Pai Miguel é um templo pequeno e simples na Zona Oeste do Rio de Janeiro. É um lugar onde todos, não sendo de maneira nenhuma perfeitos, procuram fazer seu melhor. O astral é maravilhoso e todos que o visitam se sentem muito bem lá. Hoje, agradeço a Deus por ter conhecido esta casa. Depois de muito esperar, finalmente posso participar de rituais belos e profundos e viver momentos de preciosa comunhão espiritual. As palavras parecem falhar quando se trata de expressar a força e amplitude das experiências transcendentais. Só quando nos
permitimos sentir e participar, compreendemos a grandeza de um ritual. Os atabaques chamam os Orixás, os cânticos sucedem-se. Podemos manifestar livremente o que somos, produtos de três raças no Brasil, criaturas cósmicas experienciando no planeta terra. Na paz do nosso templo podemos realizar o que as estruturas mantenedoras do Status Quo, tanto reprimem e negam aos que cultuam os Orixás: Simplesmente SER.
Seguimos enlevados nesta aliança que promove não só o resgate de nossa história coletiva, como também o encontro com nossa história individual. São muitos momentos de convivência prazerosa com nossas entidades. Seus conselhos e abraços têm sido consolo e orientação para seguirmos a jornada terrena. Além dos Orixás; pretos velhos, caboclos, exus catiços, ciganos. Amigos que sob estas identidades astrais, se aproximam aqui desta dimensão para nos dispensar amor e carinho.
Acredito que todos os irmãos de fé sentem parecido. Nossa vida não seria a mesma sem a companhia de nossos guias. São mestres, irmãos mais experientes ou mesmo companheiros de aprendizado predispostos a ajudar, e que assim o fazem dedicada e calorosamente. Que a Suprema Divindade Pai-Mãe, Orixás Sagrados e entidades estejam conosco emanando as melhores vibrações. É muito bom contar com eles que estão sempre intencionando e torcendo para o nosso sucesso.
Saravá Umbanda!
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