Tempo de ler e tempo de reler. Li o admirável mundo novo há mais ou menos 20 anos e confesso que não entendi muito aquele misto de discurso científico e social.
Fiquei agradavelmente supresa ao relê-lo agora. Leve. Fácil. Desce redondo. O autor é um mestre para criar situações interessantes. Um olhar perpicaz sopbre os desencontros da vida moderna. O maya nosso de cada dia.A tecnologia competindo (e ganhando) com a alma. A exclusão social. A fuga pelas drogas. Um romance breve para deixar o fim-de-semana tinindo de bom. Olha só os nomes dos personagens: Henry Foster, Polly Trotsky, Bernardo Marx. Semelhança com pessoas vivas ou mortas? Claro que não é mera coincidência.
Talvez não seja uma obra prima, mas é original e bem desenvolvido. Texto claro e objetivo, sabe dizer o que quer. Não é uma abordagem para revolver as entranhas da civilização mas diverte e faz pensar.
Destaquei certos trechos que ao meu ver, informam porque o livro faz sucesso:
"__Simplesmente para lhes dar uma idéia de conjunto __explicava-lhes. Porque era preciso, naturalmente, que tivessem alguma idéia de conjunto para poderem fazer seu trabalho inteligentemente ___mas uma idéia a mais resumida possível, para que se tornassem membros úteis e felizes da sociedade. Porque os detalhes, como se sabe, conduzem à virtude e à felicidade: as generalidades são males intelectualmente necessários. Não são filósofos, mas sim colecionadores de selos e os marceneiros amadores que constituem a espinha dorsal da sociedade."
Nem quero comentar muito. Tudo bem objetivo. O desejável era que todos fossem o mais idiota possível. Ô loco.
Comentar pelo começo
Aula do DIC de Londres(Diretor de Incubação e Condicionamento) ministrada aos seus jovens alunos condicionados.
"__Vou começar pelo começo __disse o DIC, e os estudantes mais aplicados anotaram sua intenção no caderno: "começar pelo começo" __Isto__agitou a mão__ são as incubadoras."
Os estudantes era completamente idiotas. O condicionamento era devastador. Me dá um frio na espinha pensar que as ilusões da vida andam soltas e há interesses em investir no lado vulnerável das pessoas. Não fosse isso, seria hilário, não?
Bernard Marx
"No elevador em que subiam para a rouparia, Henry Foster e o Diretor Adjunto de Predestinação deram um tanto ostensivamente as costas a Bernard Marx, do Gabinete de Psicologia: desviavam-se daquela reputação desagradável."
Bernard Marx era diferente fisica e emocionalmente. O boato era que tinham posto (indevidamente) álcool na proveta onde ele fora gerado. Ele tinha uma espécie de "defeito de fabricação" que o deixava com características individuais, o que era horrível naquela sociedade. Nem por ser mais pensante e menos alienado desfrutava de mais prestígio ou era mais feliz. Fugia do padrão e não tinha valor como indivíduo. Sentia-se excluído e criticava todo mundo mais por inveja do que por dissidência. No fim, revela-se um vermezinho.
Ritual do dia de Ford
"O Presidente fez de novo o sinal do T e sentou-se. A cerimônia tinha começado. Os comprimidos de soma consagrados foram colocados no centro da mesa. A taça da amizade, cheia de refresco de morango com soma, foi passada de mão em mão e, com a fórmula "Bebo ao meu aniquilamento", levada doze vezes aos lábios. Depois, com o acompanhamento da orquestra sintética, cantaram o Primeiro Cântico de Solidariedade.
"Nós somos doze, ó ford; em tuas mãos reunidos
Como as gotas que caem do Ribeiro Social;
Ah! Faze com que corramos destemidos
Como teu Calhambeque sem rival!"
É que Ford era a divindade. Credo! Apesar dos pesares, ainda não chegamos aí. Ou chegamos?
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