segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Limpando a casa

Tanta poeira
nos meus chinelos
sujeira nos cantos da casa
prego a manga da camisa
encontro farelo
nas gretas incontáveis da casa
Que impulso é esse
que me atarracha à  casa?
coisa feita
compulsão ancestral
limpar uma casa
é andar em círculos
atrás da sujeira
que vai atrás da gente
pó nos cabelos
mãos gordurosas e ásperas
de lavar a borra do café
caso de amor esquisito com o tanque
amante medonho
obscuro
com seus olhos de limo
e um corpo compacto
é um safado
que devora meus quadris
coisas espalhadas
em cima das cadeiras
me dando ordens
e eu sem conseguir me defender
Eu numa peleja incrível
e elas contra mim
se divertindo
numa paz invejável
que eu não  alcanço

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Esperança

A estrela não luziu
no meu dia que finda
não sou Bandeira nem nada
mas a esperança me incomoda
como areia na garganta
vidro moído e rascante
mordo pão com mortadela
teu rosto é como um desgosto
ondulando no éter
holografia desinibida
ofendendo minha paixão descuidada
com  insistência e desafeto
meu rosto não está desfeito em brumas
está concreto e avisado
que viagem de paixão
só tem bilhete  de ida
e não dá prêmio de volta
teu rosto é silêncio e pronto
é ovo sem ter galinha
é o dito pelo não dito
o que quase nunca é dito
eu me assusto e solto um grito mudo
quero ver teu silêncio
correr para o meu grito mudo
se encontrarem atrás do meio-dia
nas frestas do ar
na coloração do olhar
nas  pontas dos dedos
não quero obedecer aos apelos  do medo
por isso acordo mais cedo
e faço um poema para cutucar
uma massa enorme  de lembranças
e asso no forno
para fazer um pão
com gosto do teu rosto