segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Beautiful as a new notebook

                  I had no idea  about what to post. But I schism that I would end today with laziness. I considered  several alternatives, but all  seemed  inadequate.
                  I gave  up the  post  and I read  about  astrology. I read  descriptions  referring Pluto, Venus, Leo, Saturn quadratures etc. I had to write  something  about  association  Mars/Venus and went  to the box  of draft papers. some astral position  favored  me because  the back of  draft  paper  brought  a piece of    "Morte e vida severina"( *1).  It is the moment  when   the son of Severino(*2)  is born. Even  if the child  is born into  great poverty, his birth is welcomed, yet to emerge  in the  harshest , painful or uninviting  environments.
                 Once again  the formula  of chance  helped me. The poem  ended  with  my laziness  and stimulated  the desire  to write. I love in João Cabral (*3), his great  ability  to wxplore the word  getting  most of  rhythm, sound and feel. Knowing  that all the  work  of João Cabral  is masterful, I have great admiration  for  "Morte e vida severina".  The saga  of  Severino has a lot of  purity  and strenght  of the earth  condensed  in his words. Poignant  account  of how  much pain  inhabits  the Brazilian soil,  with his  people  abandoned  to their fate.
                  On draft paper,  the passage  where the  neighbors  talk about  the beautiful of the newborn. Beautiful  is not striking  in this individual, but  concernes  what this  birth  means for life.  I've  seen  lots  of  pictures   and  comparisons  expressing  beauty. Often  these  images using  symbols  of  grandeur,  distinction, or anything  that is  primarily beautiful. But how to speak  of the  beauty  that persists  in the ugliness? The situation  did not ask  for great  images,  because  it was  not  an ostensible  beauty. Only  the sensitivity  and  soul  can see  the beauty  insinuating   through  the narrow  opening  in the body  of  misery. Then, ready,  new notebook. The simplicity and novelty. It served as a glove. Everyone  has  experienced  this. How much promised! Neat little  letters  on the first page thinking  that will be  like this until the end. Even though  the mess  has begin  on the third  page, the first is always  a project, a moment of renewal, the start. This time  everything  will work out.  As a new course, new learning, a new home,  new car, new love. It is something  new that one or two months  may have  been  lost in the  confusion  of everyday life. But the feeling of the first page is actually very pleasure.
                  Ever since  I read   this  poem  for the  first  many years  ago,  this image  of new  notebook  was pratically  stamped on my memory. I think I like notebooks.
                  I am  certain  about  one thing. What  I could  not  express,  the verses speak  for  themselves.

___ Belo porque tem do novo
       a surpresa  e a alegria
___Belo como a coisa nova
       na prateleira até então vazia.
___como qualquer coisa nova
       inaugurando o seu dia.
       Ou como o caderno  novo
       quando a gente o principia.


*1 -Vida e Morte severina : metrical theatre play.
        This  theatre play  recounts  the  saga  of   Severino  who  escapes   from the  drought  walking  miles to reach  the city  where   he also face  serious  problems of social exclusion.

*2-Severino: male name

*3-João Cabral de Melo Neto: Brazilian poet  born  in northeastern Brazil

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Belo como um caderno novo

                  Andava meio sem idéia para fazer post e cismei que tinha que acabar  com a preguiça hoje. Pensei em várias alternativas,  mas cada  qual me parecia  mais inadequada.

                  Desisti do post e fui ler sobre astrologia. Li descrições  referentes a Plutão, Vênus, Leão na casa V,  quadraturas  de   Saturno  etc. Precisei  anotar  algo sobre  associação  de Marte com  Vênus  e fui  até a caixa  de papéis de rascunho. Alguma  conjuntura  astral me  favoreceu,  pois o verso do papel de rascunho trazia  um trecho de Morte e vida severina. É o momento em que nasce o filho  de Severino retirante. Mesmo que a criança tenha nascido em meio  a grande miséria, seu nascimento é saudado,  senão com alegria,  pelo menos com a consciência   de que toda  vida é para ser reverenciada. Cada manifestação de vida tem que ser respeitada e acolhida,  ainda que surja nos ambientes  mais hostis, dolorosos ou nada conVIDAtivos.









Mais uma vez a fórmula do acaso socorreu-me. O poema detonou  minha  preguiça e estimulou a vontade de escrever. Amo em João Cabral, sua grande habilidade de explorar  a palavra para extrair  dela o máximo de ritmo, sonoridade e sensação.  Sabendo que  toda a obra de João Cabral  é magistral,  tenho uma grande admiração  por Vida e morte Severina. A saga de Severino retirante tem muito da pureza e da força da terra condensadas em suas  palavras. Relato pungente de quanta dor  habita  o solo brasileiro, com sua gente abandonada   à própria   sorte.

               No papel de rascunho, a passagem  em que  os vizinhos falam  sobre a beleza  do  recém-nascido, que não sendo qualidade marcante  naquele  indivíduo, é inerente  ao que este  rebento nascido da dor e da fome,  significa para  a vida. Já vi montes  de imagens e comparações  expressando  a   beleza. Quase sempre  estas imagens usam  símbolos de grandiosidade, distinção ou  qualquer coisa que seja  primordialmente belo. Mas como falar da beleza que persiste na feiúra?  A situação não pedia imagens  grandiosas, pois não  se tratava de  uma beleza ostensiva.Só  mesmo  a sensibilidade  e a alma  para ver a beleza  se insinuando  através da estreita  abertura no corpo da miséria. Então pronto, caderno novo. A simplicidade e a novidade. Serviu como uma luva. Todo mundo já experimentou  isto.Quanta promessa! Letrinha  caprichada na primeira  página acreditando  que será assim até o final. Ainda que a  bagunça  já  comece  na terceira página,  a primeira é sempre um projeto, um momento de renovação, a partida. Desta vez tudo vai dar certo. Um novo curso, novo aprendizado, uma nova  casa,  obras na  velha casa,  novo  carro, novo amor. É qualquer  coisa  nova que um ou dois meses  após poderá  ter se perdido na confusão do cotidiano. Mas a  sensação da primeira página  é  realmente muito gostosa.
            Desde que li este poema pela primeira vez, há muitos anos atrás, esta imagem do caderno novo ficou praticamente carimbada na minha memória. Acho que gosto de cadernos.
            De uma coisa estou certa. O que eu não consegui expressar, os versos falarão por si:


"___De sua formosura
         deixai-me que diga:
         belo como a palmatória
         na caatinga sem saliva.
 ___De sua formosura
        deixai-me  que diga:
         é tão belo como um sim
         numa sala negativa.


___É tão belo como a soca
       que o canavial multiplica.
___Belo porque é uma porta
        abrindo-se em mais saídas
___Belo como a última onda
       que o fim do mar sempre  adia.
___É tão belo como as ondas
       em sua  adição  infinita.


___Belo porque tem do novo
       a surpresa e a alegria.
___Belo como a coisa nova
       na prateleira  até então vazia.
___Como qualquer coisa nova
       inaugurando o seu dia
___Ou como  o caderno novo
      quando a gente o principia.


___É belo porque com o novo
       todo o velho contagia.
___Belo porque corrompe
       com sangue novo a anemia.


Vida e morte severina (fragmento)
João cabral de Melo Neto

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

My mirror

                      why do usually we come  back   repeatedly to the mirror? Is as if the crystaline surface draw us. I always  find myself studying   my face in the mirror. I go to bedroom  to pick up something  and find myself  in a sneak peek. Mirrors has its mystery.  In fairy  tales mirrors  have a prominent  place. they are even humanized  with speech,  gestures and powers.
                      We deplore  Snow White's  wicked stepmother, notwithstanding we have  much of this character inside us. Not that we are cruel.  We just want to make sure  that our smile  is still charming.
                      Surely  we have a relationship  with the mirror. But if he is  friend or foe is hard to say. His mood  is changing and  he send  diversified messages. Sometimes  he tells us  we are beautiful and sometimes  we feel horrible face  of wrinkles,  skin imperfections  and whitened  hairs. We become disappointed, of course. We would  like to save for ever soft skin, sensual lips, beautiful brown hair.
                       Primordial  image of our face can unplease us. Somehow  we try to make changes. We begin  to stretch the skin with  fingers  and check the smile. We distract a few minutes in this  make-believe and then  lucidity  warn us  the pull-stretch  play  will not work.
                       Promisingly our face  is not just one. A lot of views, moods, optimistic and pessimistic bias mix themselves in our face.
                      As the mirror  is temperamental  and  face is changing we can take advantages of the swings. The best is hold up strongly  these instants  when  the face  says  where and how  wants to be improved.  If the mirror  says that we need a sexy lipstick or take care of our theet, do it immediately  because things can  change and  he, grumpy to say that nothing  more will work.
                      If the image speak  to us  we can  accept  the dialogue  and give  to the mirror  opportunities for more  productives  suggestions.We  can  to make a grimace  of disgust and the mirror  will accept it  because  he needs  our complicity.How are we going  to answer? we have to think very well about this answer, choose the best way and  also a lot of balance  for not exaggerate as a  misguided  stepmother.
                     We must be carefully  for not  lost  ourselves  in the infinitude of the mirrors.

Espelho meu

                Por que será que voltamos repetidamente ao espelho? É como se a superfície cristalina nos atraísse. Eu sempre me pego estudando meu rosto no espelho. É meio automático. Vou ao quarto apanhar um objeto  e me pego  numa furtiva  olhadela.
                Espelhos têm mesmo o seu mistério. Assim o provam os contos de fada, onde os espelhos  ocupam lugar de destaque e são humanizados  com fala, gestos, vontade e poderes.
                Por mais que deploremos  a malvada madrasta da Branca de Neve  não podemos negar  que muito desta personagem  habita em nós. Não que sejamos  delirantemente cruéis. Apenas  tentamos  nos certificar  que nossa carinha ainda ostenta aquele sorriso  encantador e que a curva da sobrancelha garante o olhar penetrante.
                Que o espelho convive conosco e que  temos  uma relação estreita,  é certo, porém se ele é amigo ou inimigo é difícil dizer. Parece que seu humor é mutável e  manda mensagens muito  diversificadas. Às vezes  diz que somos uma gata (ou gato) fulminante,  e  às vezes nós é que saímos  fulminados diante das rugas,  das imperfeições da pele, dos cabelos embranquecidos etc. Compreensível a decepção. Gostaríamos  de conservar  para a eternidade a pele macia, os lábios sensuais e a linda cabeleira castanha.
                A imagem primordial  do nosso rosto pode não nos agradar. De alguma maneira tentamos  fazer modificações. Esticamos a pele  com os dedos,  checamos o sorriso. E toca a repuxar prá lá e prá cá. Nos distraímos  alguns minutos neste faz de conta até que a lucidez  nos avisa que o puxa-estica não vai dar em nada.
                Promissoramente, nosso rosto não é apenas um. Ele é um campo pulsante e vivo onde  se misturam diversas visões,  estados de espírito,  predisposições otimistas e pessimistas. Um mundo de afetos e sentimentos.
                Como o espelho é temperamental  e o rosto mutável,  podemos  investir nas oscilações. O melhor é segurar com força os instantes  em que o rosto  informa onde e como quer ser melhor. Se ele disser que precisa de um batom sensual  ou cuidado com os dentes, é melhor ir correndo antes que mal humorado,  o espelho  insinue que não adianta nada mesmo.
                 Se a imagem  dialoga conosco,  podemos aceitar o diálogo e dar ao espelho novas oportunidades  para  sugestões produtivas. Podemos também fazer  uma careta  de desânimo  e desgosto  e o espelho terá de aceitá-la, pois ele precisa  de nossa  cumplicidade.
                Que resposta daremos? É pensar bem na hora  de escolher e de alternar. Seria bom  escolher a tendência  que nos deixa  mais feliz e um certo equilíbrio  para não forçar  a barra como uma madrasta desvairada. Enfim,  se amar e ser cuidadosa  (ou cuidadoso )  para não se perder na infinitude  dos  espelhos.      
                 
         

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Miguilim sem pirlimpimpim

Miguilim  é uma imagem de criança  viva até a medula. Uma rosa, uma fruta, uma gota de sangue e de lágrima onde  cabem  todas as crianças excluídas.


Esse post é inspirado na obra  "Miguilim" de João Guimarães Rosa





Teu pó é o asco das ruas
pó da dor e da loucura
fungado junto com a infância
causticada e desmembrada
equilibrando limões
já que lágrimas não chamam atenção
carregando a dor
corroendo as entranhas
arranco de mim
um poema fugitivo
que não quer vir
tem medo
chora e esperneia
olhos perdidos num
espetáculo que não entende
pequenos faróis
refletindo  a  rua absurda
pele esfolada
mãos sujas
desenhando gestos vazios
a chuva pergunta
e o sol forte responde
por que  tudo acontece?
coração tão cheio de vazio
a mão da polícia
apertando o braço
se contorce impotente
sem pedir socorro
a pequenina sentadinha
na calçada
graça que salta das pedras
como flor  inesperada
teimou em nascer ali
mimosa fazendo pose
sorriso doce
toda mel
toda menina suja
surgindo dos farrapos
Deus mandando brotar beleza
onde plantamos o feio
ainda um alento para viver