terça-feira, 10 de julho de 2012

Nossas mochilas

           Conheço uma lenda que aborda os riscos e as possibilidades da palavra: Um senhor  manda seu escravo ao mercado buscar a melhor coisa do mundo. O escravo traz língua.Logo após o senhor manda o escravo buscar a pior coisa do mundo. Novamente uma língua. Como assim? indaga o senhor. O melhor e também o pior? Então o escravo começa a argumentar: A língua transmite conhecimentos  que geram sabedoria e amor. A língua produz textos de profunda beleza filosófica que transportam para o papel  trechos iluminados da alma de seus escritores. A língua registra as lições dos colegiais, as quais, ao longo dos anos, passam de rascunhos apressados a profissões e realizações maduras. Na tradição oral encontramos as suaves canções de ninar que são como a terra e a água para fazer desabrochar o pequeno ser. Enfim, desde os bate-papos informais até as parábolas dos avatares, a palavra é como sangue correndo nas veias da civilização e do progresso. Ah! mas tudo tem seu verso e reverso, e a palavra não escapa. Tem sua face sombria: As pequenas mentiras para as pequenas traições. As mentiras dos políticos e demagogos em geral  para enganar o povo e as comunidades numerosas. As mentiras das juras de amor que escondem no mel dos sussurros os gérmens da decepção e da dor. Palavras arrogantes e desdenhosas dos embotados  que julgam o que nem conhecem.
            Esta lenda ocorreu-me porque andei recebendo uns insultos. Experiência estranha.É claro que não é a primeira vez. Como já me envolvi em conflitos, já recebi pela cara agressões, xingamentos e categorizações nada lisonjeiras. Também já emiti meus torpedos, diga-se de passagem. Mas desta vez foi diferente, dirigi-me a pessoa educadamente. Inesperadamente, recebi em  troca adjetivos desqualificadores e estúpidos. Vixe! Assim, foi a primeira vez. Fiquei bastante confusa e morta de raiva. Passados os primeiros momentos as indagações vieram. Eu só me perguntava porquê? porquê?porquê? O que existiu  ou existe em mim que levou a pessoa  a  me ver daquela forma? Penso que talvez alguma característica minha esteja contribuindo  para uma imagem tão pejorativa sem que eu me dê conta.
            Atuais tendências de pensamento dizem que não há acaso no cosmos e que tudo o que nos chega, foi atraído por nós.  Passados os momentos de estupefação e raiva,  deu pra começar a pensar. Não tenho dúvida de que atraí a ocorrência. Não sei muito bem como. Muito provavelmente as respostas chegarão com o auto-conhecimento. Pode ter sido bem desagradável, mas vou aproveitar para aprender e crescer..Participante desta humanidade doente, também carrego minha mochila de mazelas. Minha mochila não pára quieta. O tempo todo é muito remexida, revirada,, arrumada, desarrumada. Esta bagagem de sentimentos, sensações, impressões é rica e preciosa. Pra começar não contém somente as porcarias, também é composta de muitas coisas boas, interessantes, generosas e belas. Crescer é aprender a conviver com as confusões e contradições que sacodem a mochila. Gozado, às vezes enfio a mão lá dentro querendo pegar uma alegria  e pego uma tristeza. Às vezes pego bichinhos  estranhos que picam como marimbondos.Às vezes trago poemas fraternais, canções de amor, nacos de perdão que eu nem sabia que estavam lá. Na minha mochila ocorrem  alquimias incríveis, coisas de Deus e do demônio. Pode parecer esquisito, mas viver é isso mesmo.É cuidar desta bagagem que somos nós vivos, atuantes, agentes, reagentes e tudo o mais que nos cerca e representa  os mais diversos estímulos. Ninguém escapa da sua mochila. Ela faz parte de nós até a medula. Não é tão mau se entendemos a sua linguagem e o seu modo de operar. Crescer é fácil ou difícil? Não sei dizer. Crescer é crescer e nada substitui crescer.
              Sei que não carrego a minha mochila com a leveza de uma bailarina nem com a destreza de um atleta. Mas a localizo bem nas  costas e mantenho o equilíbrio . Respeito a hora de parar e de pedir ajuda. Desta vez enfiei a mão lá dentro e puxei uma fatia de compreensão para comigo e para com o outro . E veio também um imenso tecido de fé, perdão e confiança no criador onipresentemente presente em nossas vidas que nos conforta e nos mostra o horizonte  infinito quie se prolonga numa fonte de dádivas. Veio também um aviso para prestarmos atenção, porque muitas vezes alguns conteúdos da mochila arreganham a fuça como serpentes mas não passam de inofensivas e tolas minhoquinhas.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Paul MacCartney and drought in the Northeast of Brasil

              Wound and shriveled hands, broken nails and covered in dusty of the ground, disheveled hair, withered skin. Covering his face with hands and  hesitant  in his speech he whimpers.  Cries for God, because he lost the strength to call. His silhouete, the crached  ground, ghostly shrubs of dry branches are the landscap. He is a peasant from Northeast of Brasil giving testimony to Globo News TV journal.  In some places on Northeast drought is overwhelming. On the ground, the maps of cracks is eerily interrupted by carcasses of ox. Old and  repetitious scenario of television, reports, magazines, documentaries, fiction. Any kind of novelty. We do not believe we're still seeing that after so much  globalization, zero hunger project, surge in growth. The discourse of modernization being adopted with vehemence and drought destroying crops, livestock, people. The drought has not guilty of anything. The behavior of nature in the place is fully known and very predictable. the carelessness is the absence of mesures, resources or tools able to interfere modifying natural agents. In the era of industrialization, difficult to believe that there are no tools or technologies to ensure  survival in period of drought. Technically, the solution is also relatively easy  and financially  feasible. It may be challenging to  create and think about solutions, but talent is not lacking in Brasil. And then I start to wonder whay this huge and shameful delay persists in Brasil.

                Next emission: Dark brown hair falling in fringe, framing a pretty  and charming young face. Silky and shiny skin, melodious and very fiine voice.The guitar seems to be part of the body so well it matchs with the person. How much charm and seduction! Next take: A 70 years old man not so rousing, but no less charming, no less brilliant. Following the images  of TV journal, my text goes from drought  to Paul McCartney. Wonderful  the human spirit  witch can feel, think, learn, teach, work, dream, establish goals and objectives. It's a pleasure to see someone intelligent, mature, healthy, creative and active. The human being is a piece of God and able to work wonders, transforming themselves and  the world for the better. That's how we figure in the   plans of  God, who drives and invites us  to evolve.

                 I was brooding about drought  and to understand  the delay in the Northeast  and Paul McCartney was the answer. Wait, I'm going to explain. Look where I want to get: Caring  for the issue  of drought is caring for the environment. Carin for the environment is to bring information  to people. Information  relating to health. Health and education are  deeply  associated factors. Therefore the pair school and hospital will be inevitable. If there is school people learns to read. If people learns to read they will come into contact with ideas, to question , discover,  evaluate  and identify  imbalances. they understand  they are being  injured, they begin  to complain and the  next moment they articulate  their complaints. There  is a trend coming and it may  ask less distortions in resources distribution. Nothing  interesting for the privileged  caste  of richs  Northeastern , isn't it?

                 How much power exists  in educated  intelligence , in talent elaborate! Beautiful the image of Paul  McCartney! A being  full-blown,  lush, creating a lot, breaking  conventions,  chanching  the world. This is  what  happens  when  basic needs are no longer  a concer. Have we considered the Northeast with no environmental  or socioeconomic problems? Have we considered Mrs. Evolution installed  and releasing  the potential of production and creation of the people? What  space  would be left  to the privileges , landholdings  and  imbalances? Imagine if peasants  who  until yesterday could only wail, go around  resourceful   and uninhibited,  saying  whatever  they want  and understanding everything. If  they go  out  singing,  dreaming  and  making  dream,  inventives  and  proposing  new solutions,  head swarming  with  original  ideas.  Yeah......Colonel privilege , certainly  would scratch his lices.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Paul McCartney e a seca do Nordeste

         Mãos feridas e encarquilhadas,  unhas quebradas e sujas de terra, cabelos revoltos, pele  ressequida. Cobrindo o rosto com as mãos e engrolando a fala ele choraminga. Clama por Deus. Ou melhor, reclama por Deus, pois já perdeu  as forças para clamar. Sua silhueta compõe a paisagem  junto com  o solo rachado e fantasmagóricos arbustos de galhos secos.

          Ele é um camponês  do Nordeste do Brasil dando depoimento  ao jornal da Globo News. Em alguns lugares do Nordeste a seca está avassaladora. No chão,  o mapa de rachaduras é sinistramente  interrompido  por carcaças de boi. Velho e repetitivo cenário de reportagens de TV,  de revistas , documentários, ficção. Tão sem novidade que a gente nem acredita  que ainda esteja vendo aquilo  depois de tanta  globalização,  tanto fome zero,  tanto surto de crescimento.  O discurso de  modernização  sendo adotado com fervor e a seca destruindo  a   lavoura, o gado, as pessoas. A seca mesmo não tem culpa de nada.  O comportamento da natureza  ali  é totalmente conhecido e muito previsível.  A displicência e a falta de cuidado  está na ausência  de  medidas,  recursos ou instrumentos que interfiram  modificando  os agentes naturais. Em plena era da industrialização, não dá para acreditar  que não  haja ferramentas  ou  tecnologias  para garantir a a sobrevivência no período de estiagem.  Tecnicamente  a solução é relativamente fácil e financeiramente  também é viável.  Pode ser que dê trabalho  criar e pensar,  mas talento é o que não falta no Brasil. E então eu comecei  a me perguntar porque este enorme e vergonhoso  atraso perdura no Brasil.

      Próximo programa. Cabelos castanho escuro caindo numa franja basta, emoldurando um rostinho jovem e encantador. Pele sedosa e brilhante, voz melodiosa e afinadíssima. A guitarra parece  fazer parte do corpo de tão bem que fica ali. Quanto charme, encanto e sedução! Corte da câmera.  Senhor de 70 anos já não tão eletrizante, porém não menos charmoso, não menos brilhante. seguindo as imagens da Globo News, meu texto  foi da seca para Paul McCartney. Maravilhoso  o espírito humano  capaz de sentir, pensar,  aprender,  ensinar,  trabalhar,  sonhar,  estabelecer  metas e objetivos. Dá gosto ver alguém inteligente, maduro, saudável,  criativo e atuante. O ser humano é um fragmento de Deus e   capaz  de realizar maravilhas, transformar a si  e ao mundo  para melhor.  É assim  que a gente figura  nos planos de Deus, que nos impulsiona e nos convida a evoluir.

      Eu estava encafifada querendo entender o atraso do Nordeste e Paul McCartney foi a resposta. Peraí, eu explico! Veja onde quero chegar: Cuidar da questão da seca é cuidar do ambiente. Cuidar do ambiente é levar informação às pessoas. Informações dizem  respeito à saúde. Saúde e educação são fatores  profundamente associados. Por  conseguinte o par  escola e hospital será inevitável. Se tem escola as pessoas aprendem a ler. Se aprendem a ler vão buscar livros e entram em contato com idéias. Aí começam a futucar as próprias idéias, a questionar,  descobrir,  avaliar e identificar  desequilíbrios. Entendem que estão sendo lesadas,  começam a reclamar e no momento seguinte articulam  as reclamações.  Aí é a evolução chegando e ela pode  pedir menos  distorções na distribuição de recursos. Nada interessante para a  casta de privilegiados do Nordeste, não?

        Quanto poder  existe  na inteligência  educada,  no talento burilado! Figurinha linda a do
Paul McCartney! Um ser desabrochado, exuberante, criando a todo vapor, arrebentando  convenções, mudando  o mundo. É o que acontece quando as necessidades básicas já não  são mais  preocupação.  Já pensou o Nordeste sem problemas  ambientais ou sócio-econômicos?  Já pensou  Dona Evolução instalada liberando  o potencial   de produção e criação  do povo? Que espaço sobraria  para  os privilégios, latifúndios e desequilíbrios? Imagine se camponeses que até ontem  só podiam  lamuriar-se,  saem por aí  destabocados e desinibidos, falando  o que bem entendem  e entendendo tudo. Se saem cantando,  sonhando,  e fazendo sonhar, inventando modas,   propondo soluções novas,  cabeça  fervilhando  de idéias originais. É....Coronel   Privilégio  ia coçar os piolhos.

ruído

Caminhar  descalça no deserto
apenas uma leve manta no dorso
pés sem proteção
coração enrolado numa névoa crespa
batendo ao ritmo de mil interrogações
engolindo medo e raiva
e essa história
misto de tédio e cansaço
um ruído quieto corroendo a 

paz do meu silêncio

quinta-feira, 31 de maio de 2012

The Darma bums

             Jack  Kerouac  is no longer  so unknown  to me. I already read "hippos"  and  I'm  finishing  "The Dharma Bums". This last one  seems much better.  It's  an amusing  reading. Particularly I like it very much. There is a taste, a special  flavor  when  we find meaning  in life. As if suddenly  something falls  into place  within us. A sense  thant  both  ends  of a circuit  are  interconnected, and then  what  was once  empty  is now filled in a consistent manner. I think  the excerpt  below  illustrates  what I tried  to express.

             Chapter 9
  
            "Seguimos  em frente,  e me senti  imensamente feliz  pelo fato  de a trilha ter uma espécie  de  aparência  imortal, naquele  já  começo  de tarde, pelo modo  como a encosta  coberta  de capim da colina  parecia estar imersa  em uma nuvem  de pó de ouro  antigo, e os  insetos  se agitavam  sobre as pedras  e o vento suspirava  em passos de dança brilhantes  sobre as rochas  aquecidas, e pela maneira  como a trilha  de repente  entrava   em uma parte  fresca  e sombreada  com árvores altas que se erguiam, e ali a luz  era mais  profunda."

            The conflict  and criticism have their place. Dense novels  are interesting  and can  be quite  rich.  But what  would  become  of  us  poor  readers, if  occasionally someone  does not  remember  writing  a  book  that just to  amuse?  Lightness, joy and  pleasure  do not compromise  the  aesthetic quality  ( damn,  I think  some authors  think so.)

           In both  novel environment  is very  important, since  it almost does change.  Thus it is like the  color  of the narrative. In "The Dharma  bums"  lush  and  green  of   mountains  was a happy  choice.  I confess  I  found  the pilgrimage  from bar to bar, in "hippos" , a little  cloying. Result  perhaps   of a certain  peeve  of mine with  respect  to bars.

           As far as I  understood  the theme  of the book is  something  we can  call  happiness  or at least  well-being. It is not a recipe.  He does  not say: "Dear reader,  go to  mountains and you will be happy",  his  statement is:  " I'm happy  on a mountain ,  I'm  happy  doing  this and that." This is to be happy  for him.  Ray Smith  is happy as he want or can. Afterthought, this is the opposite of  recommendations  or  doctrines, or whatnot.  Happinnes  is so personal, so personal,  that can only be a person  with  herself. The main characters are wandering  vagabond  who live  in a shack, not  believing  in money,  employment, social status, etc.  Although  the criticism  against  these values  was  profound, there isn't a literary  construction  with this speech.  Literally, Kerouac  does not take  this path,  which  could result  in a  repetitive text and  perhaps  without  impact. Fortunately,  here in  this corner,  the text  takes a detour timely  and forget this part. After all, who  can  define  what is appropriate,  right  or wrong  in this life? Who  will have  answers to our  dillemas of any  nature? There  are people everywhere around  happy  or  unhappy being vagabonds wanders, bourgeois, mystics, materialists, etc. And also  I can't  add to this   happiness of Smith  and Japhy what they  have never said:  that happiness is not to cry,  do not pass needs, not have a life full  of  loopholes. These characters, in contrast, do not keep many  expectations to live in this situation.  This would be before  accomodation than  happiness.

          The mains characters, Ray  Smith and Japhy Ryder, report  an  adherence to  Buddhism, Nirvana wish,  and called  themselves  "Dharma Bums".

           I begin  to think  that perhaps  the Beatnik literature  preaches  live as a great religion  or philosophy. And  in this religion  there are  moments  where we see that  there are  no answers. Or at least they are not ready,   far less  an  answer  may  serve for all.


The Dharma Bums
Jack Kerouac

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os vagabundos iluminados



             Jack Kerouac já não me  é tão desconhecido assim. Até agora li                                 
"Os hipopótamos" e  estou terminando  "Vagabundos iluminados". Este  último me parece  bem  melhor. Tom de leveza e diversão.Particularmente eu gostei muito disso. Existe sim, um gosto, um sabor especial  em achar algum sentido na vida . Assim como se de repente uma ficha caísse  e preenchesse  algum lugar dentro  de nós. Uma sensação de  que duas pontas  de um circuito fossem interligadas. E aí o que antes era vazio agora está preenchido de um jeito um tanto quanto  consistente. Creio que o trecho abaixo ilustra o que eu tentei  expressar:

           "Seguimos em frente,  e me senti imensamente feliz pelo fato  de a trilha ter uma  espécie de aparência imortal,  naquele já começo de tarde, pelo modo  como a encosta  coberta de capim  da colina parecia estar imersa em uma nuvem de pó de ouro antigo, e os insetos se agitavam  sobre as pedras  e o vento suspirava em passos  de dança brilhantes sobre as rochas aquecidas, e pela  maneira  como a trilha de repente entrava  em uma parte fresca e sombreada  com árvores  altas  que se erguiam , e ali a luz era mais  profunda".

                            O conflito  e a crítica  têm seu lugar. Romances densos são interessantes e podem  ser bastante ricos. Mas o que seria de nós  pobres leitores, se de vez em quando alguém não lembrasse  de escrever um livro   que apenas divertisse? Leveza,  alegria e prazer não comprometem  a qualidade estética (putz, acho que alguns  autores pensam que sim).

                            Em ambos os romances o ambiente  é  muito importante, uma vez que ele quase  não muda. É assim como se fosse a coloração da narrativa. Em  "Vagabundos iluminados" a natureza  verde e viçosa das montanhas foi uma escolha  feliz. Confesso que achei aquela peregrinação  de bar em bar do "Os hipopótamos" meio enjoativa. Fruto talvez da minha pouca atração pelos bares.

                           Até onde entendi  o tema do livro  é qualquer coisa  que possamos chamar  de felicidade ou pelo menos bem estar. Não se trata de receitas. Ele não diz: " Vá para a montanha, caro leitor, e serás feliz". A declaração dele é mais  "eu fico feliz numa montanha, eu fico feliz fazendo isso e aquilo". Trata-se do que é ser feliz para  ele. Ray Smith é feliz como quer ou pode, ou até onde quer ou pode. Se a gente ver bem, isto é o oposto  de  recomendações  ou doutrinas, ou sei lá o quê.  A felicidade é tão pessoal, mas tão pessoal, que só pode ser uma pessoa consigo mesma.  Os personagens principais  são vagabundos  andarilhos que vivem num  barraco, não acreditando em dinheiro, emprego, status social etc. Embora a crítica contra estes valores  seja  até  profunda, não  há uma construção literária  com  esse  discurso. Literariamente  ele não toma esse caminho,  o que poderia resultar um texto repetitivo  e talvez  sem  impacto. Felizmente aqui nesta  esquina ele faz um  desvio  oportuno e esquece esta vertente.  Afinal, quem pode definir  o que é conveniente, certo ou errado nesta vida? Quem terá  respostas para  nossos dilemas  sejam eles de quaisquer  natureza? Há  pessoas  felizes  ou  infelizes  por aí  sejam  elas  vagabundos, andarilhos, burgueses,  místicos, materialistas, etc.Muito menos eu posso acrescentar nesta felicidade  de Smith e  Japhy o que eles mesmos nunca disseram:  que felicidade é não chorar,  não passar necessidades, não ter a vida cheia de lacunas. Esses personagens, ao contrário, não alimentam  muitas expectativas  de viver nesta situação. Aí seria mais acomodação que felicidade.

                          Os  personagens principais, Ray Smith e Japhy Ryder, relatam  uma adesão  ao Budismo, desejam o Nirvana, se dizem bodisatvas ou "Vagabundos do Darma".

                          O que começo a pensar   é que talvez  a literatura Beatnik  prega viver  como grande religião ou filosofia.  E nesta religião há momentos  marcantes  em que a gente  vê que não há  respostas. Ou pelo menos  elas não estão prontas e muito menos  uma resposta pode servir  para todos.


Os vagabundos iluminados
Jack Kerouac                            

terça-feira, 8 de maio de 2012

Rise of the planet of the apes

                         I liked a lot.  I love movies  with  monkeys. Monkeys are mysterious in every way. The monkeys  have so many attitudes and characteristics similar  to humans that is difficult to deny  the existence  of an evolutionary  relationship between the two species. This leaves us puzzled  if not  consciously, at least unconsciously. If the common  observation  leaves us  already mobilized,  what to say  on the theory  of evolution?  The ideas postulated by Darwin  seems  very well thought out, well-grounded. And here the mystery deepens. The theory  of evolution  answers  many questions  and raises  many more. Monkeys  are for us an alive question (or several).  It makes  this kind of movies  interesting  and atractive for us. We are more or less  like Caesar  when he compared  himself  with the dog. After all, who am I?  What am I doing here? I have human and animal features but I  am not human  nor animal.  How to trace  my history  if I am this odd creature?  What is my place in this order of things? When he found himself  trapped  on a leash, just like the dog, Caesar began to ask.  How to harmonize  the similarities  and  differences? Face the monkeys  we are  like  Caesar face the dog. Is there, really, a relationship between  humans  and monkeys? What is the nature  of this  relationship? Why some  unmistakable  similarities and a huge  gap  in  consciousness  and inteliggence?  And the  holes  that aren't  filled  with logical  explanations  are  easily  taken  by  the  imagination.  This is  why everything  that involves  monkeys are tremendously attractive for us.

                       I read  a review  of   "rises  of the planet...." the critic  has identified  carefully  several  discrepancies  and all  that remained unexplained in the movie  series  Planet of the apes. There is  gaps too, in this new  movie.  From  where  the research team  extracted  the  ALZ  112? It acts on DNA....but  how? Why? I honestly  didn't  understand  how Caesar  acquired  intelligence. I liked  commenter's work but I'm not getting this serious way.  The  "gaps"  in the film  are directly  related  to our impossibility  to discern  anything  approaching  an answer or at least  one search  path. Which  leaves us  with a  tremendous  compulsion  to speculate. As much  as the filmmakers  are creative is difficult to devise  a coherent  plot  or at least  plausible for such enigma.

                      In the end everything  will go on the way  of  fantasy. Fortunately. On cinema fantasy is always welcome and if it is  fun,  who's  going  to care about  consistency? I really enjoyed  " Rise of the planet....". Some scenes  reminded me  the priceless  King Kong, where fantasy  was delirious and wonderful  and  no  one  asked for consistency. Where  the craziest  and most abusurd inconsistency was the best of the movie: A gorilla in love with a platinum blonde. Although no  rhyme  or reason it was one  of the most  interesting  "impossible love" of the cinema.  At least, I was moved  by the scenes  on Empire State     
Building. It was amazing, no!? Now the fiery and  infatuated  King Kong  has been  replaced  by the smart, libertarian and  articulated Caesar.  Where  does he  get the idea  of rebellion?(television? books?).  And the ride  on  the  bridge? Very cool. Forget the consistency, I loved it. Apparently,  the monkeys have evolved  considerably. I do not  know  what was in  ALZ 112, but it  left Caesar hormones  totally  imune  to the females  of the human species. Although  weakened  by the crisis  of  identity  and everything  else,  would not hear  of any  woman.  And at  an early  age knew  to play  Cupid  by helping  Will win Caroline.  Look;  Our gentle ape suggest a dinner. Of course, nothing  to get hold of the ladies  as a primitive King |Kong. Awesome!


Raise of the planet of the apes

director: Rupert Wyatt
writers: Rick Jaffa, Amanda Silver
Stars: James Franco, Andy Serkis and Freida Pinto

2011__Twentieth Century Fox  Film Corporation

sábado, 5 de maio de 2012

O planeta dos macacos - a origem

                     Gostei à beça. Sou vidrada em filmes de macacos. Macacos são misteriosos  em todos os sentidos. Os macacos têm tantas atitudes  e características semelhantes  aos seres humanos que  fica difícil negar a existência de uma relação evolutiva entre as duas  espécies.Isto nos deixa  intrigados senão conscientemente pelo menos em nível inconsciente. Se a observação comum já nos deixa mobilizados, o que dizer diante da teoria da evolução das espécies?  Tudo do que Darwin postulou   parece muito bem pensado, muito bem fundamentado. E aqui  o mistério se aprofunda. A teoria da evolução responde muitas perguntas e suscita  mais inúmeras. Os macacos são para nós uma pergunta viva ( ou várias). Isso faz com que filmes como  esse sejam interessantes e chamem  muito da nossa  atenção. Ficamos mais ou menos como Caesar  quando se comparou  com o cachorro. Afinal, quem sou eu? O que estou fazendo aqui? Tenho características humanas e animais mas não pertenço ao mundo dos humanos  nem  dos animais. Como reconstituir minha história se eu sou uma criatura tão sui generis? Qual o meu  lugar  dentro desta ordem de coisas?  Quando se viu preso na coleira, tal e qual o cachorro, começaram as dúvidas de Caesar.  Como harmonizar as semelhanças e as diferenças? Diante dos macacos somos Caesar  diante do cachorro. Até onde somos macacos e onde deixamos de ser? Por que algumas  semelhanças  indisfarçáveis e uma enorme distância em consciência e inteligência? E os vazios que não foram preenchidos com explicações lógicas são facilmente  tomados pela  imaginação. É onde tudo que envolve macacos exerce grande  apelo sobre nós.

                 Dia destes li uma crítica   sobre  "A origem". O crítico identificou  cuidadosamente as várias  discrepâncias  e tudo o que ficou sem explicações  nos filmes da série  O planeta dos macacos. Neste novo filme também há  "claros" . De onde a equipe de pesquisa extraiu  o ALZ 112? Ele age no DNA...mas como?  Por quê? Eu sinceramente não entendi como Caesar  adquiriu inteligência.  Gostei do trabalho do comentarista mas eu  não vou por um caminho tão sério. Os "claros" do filme estão diretamente relacionados a nossa impossibilidade de vislumbrar algo que se aproxime de uma resposta ou pelo menos de um caminho de pesquisa. O que nos deixa com uma  tremenda compulsão de especular. Por mais que os cineastas sejam criativos fica difícil  engendrar uma trama coerente  ou pelo menos plausível para um enigma deste.

                No fim  tudo vai rolar na base da fantasia mesmo. Ainda bem. No cinema a fantasia  é muito bem-vinda e se ela for divertida, quem vai se importar com coerência ?  eu  curti  muito  "A origem". Algumas cenas me lembraram  o impagável King Kong onde a fantasia foi delirante e maravilhosa  e ninguém perguntou pela coerência. Onde o maior absurdo e a mais  louca  incoerência  foi o melhor  da festa: Um gorila apaixonado por uma lourinha platinada. Apesar de não ter pé nem cabeça foi um dos romances impossíveis mais interessantes do cinema. Eu pelo menos fiquei comovida com as cenas do Empire State. Ah! foi demais, não foi?  Agora o ardente King Kong deu vez ao inteligente,  libertário e articulado Caesar.  De onde será que ele tirou a idéia de rebelião?( da televisão? dos livros?). E a cavalgada na ponte? Muito legal. Deixa a coerência pra lá que  eu adoro isso.  Pelo jeito,  os macacos evoluíram bastante.  Não sei o que havia  no  ALZ 112, mas ele deixou  os hormônios  de Caesar totalmente  imune às fêmeas da espécie humana. Apesar de fragilizado pela crise de identidade e tudo o mais,  não quis saber de mulher nenhuma.  E em tenra idade soube até  bancar o cupido  ajudando Will a conquistar Caroline. Veja só, sugeriu um jantar. É claro, nada de se apossar das moças como um King Kong primitivo. Não é ótimo?


O planeta dos Macacos__a origem

diretor: Rupert Wyatt
roteiristas: Rick Jaffa e Amanda Silver
atores: James Franco, Andy Serkis e Freida Pinto

2011__Twentieth Century Fox film Corporation

sábado, 28 de abril de 2012

A streetcar named desire

                   Continuing  with my project  to satisfy old curiosities I took a famous streetcar.

                   Just  breathe  and be human  to know  what is a wish. Desire is our heaven  and our hell. Who  does not  know  the power  of a wish? The Bible, the Koran, and all religious  scriptures almost do not  address  another issue: the desire, its dangers  and pitfalls. And also they offer  thousand recipes  on how  to handle  the desire, to tame  the  desire  or end up with  the  desire. The consumer unlike,  stimulates  our  latent  desires and creates  thousands of new desires.

                  But the drama  of Tennesse Williams  wastes  no time with  innocuous  repressions  or stimulus to consumption.  It  leads us  to see the  desire  acting on that tenement  as a living being,  invisible  but  present,  moving among  the furnishings  sparse. Blanche Dubois  with his bag of wishes and unfulfilled  expectations  take the tram  that will leave her at the home of her sister Stella Kowalski,  where he meets  her brother-in-low  Stanley Kowalski  who  is the  imbodiment  of desire,  both from  the  standpoint:  to desire  and  be desired. From  there  the circle of desires  starts to turn.

                  The desire is visceral in humans. Despite  that we may be  more selfish than other, more coarse or fine,  we all equate  in our nature as wishful beings. Desires  are our major motivations when  choosing  our trams. Creepy question:  What  awaits us at every  station?

                  The issue  is about situations  easily  found in life  since the desire is a kind of mainspring  that makes all happen. But  the text  makes a confluence  that is the result  of  ingeniousness  and  subtlety. The helpless  refinement  of Blanche  in  contrast  with  the  coarseness  of  Stanley,  the tenement  as a  physical  space  so  fertile  for  promiscuity,  the dosage of action, the melancholy  music, the faded  houses,  the irony  of the name  "belle reve"  to a decaying  farm,  tension and conflict  between Stanley  and  Blanche as their relationship  mixes  hostility  and attraction.

                 Alcohol,  cards game  and  underwear  are good  components to increase  promiscuity and make  the atmosphere  more tense  and  alarming. But  as a symbol,  nothing compares  to the train. It sounds  like a warning. A creepy  warning  of the shockes  of  fate.  The train  is coming from somewhere  and will  arrive in another place. What  await  us there?  And what will happen  on the trip? What are  our partners? Where will leave us the train  of life? Significant  and ominous  questions  to Blanche whose fate  (or circumstances) load her as a feather in the wind.

                 I think  it  is a  great  play  with and action extremely  engaging. An assembly  well  done has all  conditions  to achieve  a deep communication with the audience and offer  one of those  shows  from  where we  left pacified  with  life.

                  

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Um bonde chamado desejo

        Continuando com o meu projeto de satisfazer antigas  curiosidades tomei um bonde famoso.

        Basta respirar  e ser humano  para saber o que é um desejo. Desejar é nosso céu e nosso inferno. Quem não conhece o poder de um desejo? A bíblia, o alcorão e todas as escrituras  religiosas  quase que não  abordam outro assunto: O desejo, seus perigos e armadilhas. E também oferecem  mil receitas  de como lidar com o desejo, domar o desejo ou acabar com o desejo. A sociedade de consumo ao contrário,  estimula nossos  desejos  latentes  e cria milhares de novos desejos.

                                       Já o drama de Tenesse Williams não perde tempo com repressões inócuas  ou estímulos de consumo. Nos leva  para ver o desejo  atuando  naquele  cortiço como um ser vivo,  invisível mas presente, movimentando-se  por entre o mobiliário escasso. Blanche  Dubois com sua mala de desejos  e expectativas frustradas toma o bonde que vai deixá-la  em casa de sua  irmã Stella Kowalski,  onde  conhece o cunhado Stanley Kowalski que é a encarnação  do desejo, tanto do ponto de vista de desejar quanto de ser desejado. A partir daí  a ciranda dos desejos  começa a girar.

                                      O desejo é visceral no ser humano. A despeito  de que possamos  ser uns mais egoístas  que outros,  mais grosseiros  ou requintados, todos  nos igualamos  na nossa natureza de seres desejantes. Desejos são nossas grandes motivações na hora de escolhermos  nossos  bondes. Questão arrepiante:  O que nos espera  em cada estação?

                                      O tema suscita  situações facilmente  encontráveis na vida, posto que o desejo  é uma espécie  de mola  mestra que faz com que tudo aconteça. Mas o texto cria uma confluência que  é o resultado de muita engenhosidade e sutileza. O requinte desamparado de Blanche em contraste com a grosseria de Stanley, o cortiço como um espaço físico  sempre  tão fértil  para  a promiscuidade, a dosagem  da ação que se intensifica, as músicas melancólicas,  as casas  desbotadas, a ironia do nome " belle reve"
 para uma fazenda  decadente,  a  tensão e o conflito  entre  Stanley e Blanche  pois o relacionamento  deles mistura  hostilidade e atração.

                                      O álcool, as cartas e as roupas íntimas  são bons  componentes para  intensificar a promiscuidade  e deixar o ambiente  mais  tenso e alarmante. Mas como símbolo, nada se compara  ao trem. Ele soa como um aviso. Um gélido aviso dos embates do destino.    O trem fatalmente está vindo de algum lugar e chegará noutro. O que nos aguarda aí? E o que acontecerá na viagem? Quais são  nossos companheiros?  Onde nos levará o trem da vida? Perguntas sinistramente significativas  para Blanche  que de veículo em veículo é carregada  pelo destino ( ou pelas circunstâncias)  como uma pena pelo vento.

                                      A meu ver  é uma  grande peça teatral com  uma ação extremamente envolvente. Uma  montagem bem feita terá tudo  para conseguir uma comunicação  profunda  com a platéia e oferecer  um daqueles  espetáculos  de onde saímos apaziguados com  a  vida. 

Um bonde chamado desejo
Tenessee Williams                                         

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Beat generation

                       I'm still  in my phase to know beat generation. I read something  about  Jack Kerouac,  William Burroughs and Allen Ginsberg. I've noticed that it's like a puzzle. People are  legendary and fiction mingle  with life. It is not always possible to separate  their lives  from   the  books. Biographical  essays  talking about  adventures  in the lodgins of universities,  alcohol and  other  drugs, several  kinds of sexual liaisons,  projects, ideas, etc. Curious  to see:  life can coutain  several  books  and  books  can  touch  destinations.

                       I just read "And hippos were boiled in their tanks,"  wich  turns into  romance  the murder  of David Kammerer  by  Lucien Carr. William Burroughs and Jack Kerouac as the characters  Will Dennison  and Mike Ryko,  alternating  write  the chapters. For Lucien Carr they created Philip Tourian and for David Kammerer,  Ramsay Allen. While I was reading I felt as my  task was join loose  wires. Kinda disturbing. I never knew very well  who was talking,  Myke Ryko or Jack Kerouac ( Or rather, if the  person, if the character). sometimes  it seems that the narrative  bring us  into it,  taking us  to a way  of bars on  the  sidewalks of  New York. What  will we  find on the  next  bar?  On the next  street? Just around the corner? it may be a bit unpredictable  and  disturbing  but it  is  almost  impossible not to go. It's like a challenge  that makes  you  feel  stronger,  the tast of  life. This is mad  as poke a hornet's  nest. I think it is a bit dangerous and we need some criteria to poke the life. But I think  they should take  a  special  fun in poke  it only  to see  the hornets stirring. Sometimes  we have to hurt  ourselves  to feel more  alive or only  to see what  happens. Eating  glass  is another metaphor  meaning more or less  the same thing. Perhaps they  wanted  to live without  safeguards. Just experience.

                    "Philip  mascou bastante o seu vidro e depois engoliu com a água de Agnes. Aí Al comeu  um  pedaço também  e dei a ele um copo  d'água para ajudar a engolir. Agnes   me perguntou  se eu achava  que eles iriam  morrer,  eu disse que não, que não havia perigo se você mastigasse bastante; era como engolir um pouco de areia. Todo aquele papo de pessoas que morriam  de mascar vidro  era  boato."

                    The  whole  time  they were  dirty,  houses were  dirty,  glasses were dirty.  Peoples  were  dirting  themselves with life. It's as if they  rejected the antiseptic situations.  Life,  with its  situations  comfortable or not, easy  or difficult, painful  or pleasurable is always  life and become  infected  with,  is a way  to be authentic. While  reading I felt  piggybacking in this bold  move of  becoming  infected with life.

                  "Quando ela lhe segredou  que o marido  era traficante de drogas e mulheres, ele disse: "Meu Deus!" e apertou sua mão. "Você  é a mulher  mais corajosa  que eu já conheci."
                  Ora, acontece que o Sr. Tourian  também tinha os olhos  voltados  para  o novo mundo. Eram tantos os seus negócios que o número  de pessoas  ressentidas com ele, por motivos reais  ou imaginários, alcançava   proporções  incontroláveis. Aí  ele começou  a se meter  com um funcionário  do consulado americano. Desnecessário dizer, ele não tinha a intenção de seguir  os exaustivos  passos  recomendados   pela  lei  da  imigração americana."

                     May books do this. Indeed,  this thirst  for  experiences is very strong  in literature. But  "And hippos..."  does it all the  time  and in a special  way.  Contamination  is like a main  character. To some  extent  it is interesting.



And  the  hippos  were boiled  in their tanks
William S. Burroughs  and  Jack Kerouac

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Geração beatnik

                 Continuo na minha fase de conhecer os poetas beatnik.  Li algo sobre Jack Kerouac,   William Burroughs  e Allen Ginsberg. Notei que é meio como um quebra-cabeça.  As pessoas são meio lendárias e os textos de ficção se misturam  às vidas. Nem sempre  é possível separar  suas vidas dos  romances e dos poemas. Os ensaios biográficos falam  sobre  aventuras nos alojamentos  das Universidades, álcool e outras drogas, ligaçoes sexuais  de vários matizes, projetos, idéias, etc. Curioso ver que uma vida  pode conter vários romances e que os romances  podem  pontuar destinos  aqui e ali.

                 Acabei de ler  "E os hipopótamos foram cozidos  em seus  tanques", que   transforma em romance o assassinato de  David Kammerer  por  Lucien Carr. William Burroughs  e  Jack Kerouac, na pele  dos personagens  Will Dennison  e  Myke Ryko, assumem alternadamente a redação dos capítulos. Para Lucien Carr  criaram Philipe Tourian  e para  David Kammerer  criaram Ramsay Allen. Durante a leitura senti como se meu trabalho fosse unir fios soltos. Meio perturbador.  Nunca sabia muito bem quem, estava falando,  se  Mike Ryko  se  Jack Kerouac. (Ou melhor, se a pessoa,se o personagem. Nunca vai se saber).Às vezes  parece que a narrativa  nos traga para dentro  dela, nos levando para um roteiro  de bares de calçadas  de Nova York.  O que  encontraremos  no próximo bar, na próxima rua, na próxima esquina? Pode ser meio  imprevisível  e perturbador mas é  quase impossível não ir. É como um desafio que faz sentir mais forte o gosto da vida. O que eles fazem é como futucar um  vespeiro. Creio que eles gostavam disso. O que é a vida senão isso? Um vespeiro. Não convém futucar sem critério. Mas acho que eles  tiravam um divertimento especial  de ficar futucando só para  ver as vespas se assanhando.Às vezes é preciso se ferir  para se sentir mais vivo ou para ver no que dá. Comer vidro é outra metáfora significando mais ou menos a mesma  coisa:

              "Philip  mascou  bastante seu vidro e depois engoliu  com a água de Agnes.Aí Al comeu um pedaço também e dei a ele um copo d'água  para ajudar a engolir. Agnes me  perguntou se eu achava que eles iriam morrer, e eu disse que não, que não havia perigo se você mastigasse bastante; era  como engolir um pouco  de areia. Todo aquele papo de pessoas  que morriam de mascar vidro  era  boato."

              Talvez eles quisessem  viver o que era necessário  sem muitas proteções. O tempo todo eles estão sujos, as casas sujas,  os copos sujos. Se sujando com a vida. Se não for  assim que graça tem? É como se eles rejeitassem as  situações antissépticas. A vida com suas situações  confortáveis ou não, fáceis ou difíceis, dolorosas ou prazerosas é sempre a vida  e se contaminar com ela  é uma maneira de ser autêntico. Ao ler, tive a sensação  de pegar carona nesta  atitude ousada  de se contaminar com a vida:

              "Quando ela lhe segredou  que o marido era traficante  de drogas e de mulheres, ele disse: " Meu Deus! e apertou   sua mão."você é a mulher  mais corajosa  que eu já conheci".
              Ora, acontece  que o Sr.Tourian  também tinha os olhos  voltados  para o novo  mundo. Eram  tantos os seus  negócios  que o número  de pessoas ressentidas  com ele,  por  motivos  reais ou imaginários, alcançava proporções  incontroláveis. Aí ele começou a se meter com um funcionário do consulado americano. Desnecessário dizer,  ele não tinha  a intenção de  seguir  os  exaustivos  passos  recomendados  pela lei da imigração americana."

             Muitos escritores fazem isso. Aliás, essa sede de vida é bem própria da literatura. Mas  " e os hipopótamos"  o faz o tempo todo e de um jeito especial. A  contaminação é assim  como um personagem principal. Até certo ponto é interessante.


E os hipopótamos foram cozidos em seus  tanques
William S. Burroughs  e  Jack Kerouac

sábado, 31 de março de 2012

Exclusão social gera auto exclusão IV

                                            Talento de casa também faz milagre

           Dia destes fui a uma reunião  em casa de um amigo. Dentre os visitantes  um menino  de  nove anos acompanhado  de seu violão, com o qual  já  tinha uma certa destreza. Puxei conversa:
__ você sabe tocar violão?
__ Mais ou menos.
__ Está na escola de música?
__Não. Não precisa estudar não. É só acompanhar pela cifra e ir tocando.

           fiquei admirada  e contente  pelo  talento  dele ( um dom  excelente,  inato para a música). Porém,  alarmada com tanta inocência.  O menino está  completamente desavisado.  Isto  é muito  natural devido  à sua  condição de criança.  O que não me parece natural e me deixa ouriçada como um porco espinho, é o vazio, a ausência de algo ou alguém  que esteja explicando, mostrando-lhe até onde este talento pode levá-lo  no seu amadurecimento   como ser humano, ser espiritual,  como fonte de gratificação, ganha pão  ou até sucesso. Não é muito difícil deduzir  que a família não está muito atenta no sentido de aproveitar,  borilar  este talento. Sei  bem  que as oportunidades  de estudar e se aperfeiçoar não são abundantes  na sociedade brasileira. Não sou insensível  para  as dificuldades  de se criar um filho  nem  para  perceber como oportunidades de estudo  e aperfeiçoamento  não são assim tão  disponíveis. Mas para este menino  até que o estudo  não  é  tão impossível. Ele não está  numa cidadezinha  do interior  do Nordeste,  nem é filho de pais miseráveis e analfabetos. Os  fatores  de exclusão   não são brutais  na vida dele.  Também não faltam escolas de música no  Rio de Janeiro. Há até programas  de ensino gratuito. No entanto,   não vejo  nenhum movimento para criar uma ponte entre o menino e seus mestres  de  música. Para agravar  a escassez  de oportunidade  temos  a inabilidade para aproveitar o pouco que se tem. O problema  é que nós,  o povo brasileiro,  não parecemos  alertas  sobre o quanto  vale um talento e que o talento não está só na televisão, pode estar dentro de casa também.

        Nem sempre  é assim no Brasil. Há segmentos  e grupos sociais ou  indivíduos  com um senso de oportunidade bastante aguçado. O comportamento  alienado em relação às oportunidades, até onde  consigo perceber,  é característico de grupos  mais  marcados pela  exclusão social, ou seja,  negros e/ou pobres, pois no Brasil os negros são pobres e pobres de pele clara vivem em idênticas condições.

        É bem provável que  com o passar dos  anos este menino se dê conta  de que tinha um dom a trabalhar. Pode ser que  "caia  a ficha" e  ele  veja que teria  feito  melhor,  se tivesse amparado  seu talento com  estudo  e auxílio de mestres. Será  benefício da sorte se isto  acontecer na juventude,  quando ainda  estará   saudável  para sair de casa  sob sol,  chuva  e outros desconfortos  para  frequentar  aulas.  Se também  já  não tiver  filhos com  outras tantas necessidades  que também precisarão ser abordadas de preferência  com  informação,  experiência e acuidade.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Social exclusion creates self exclusion III

                                                          The music of  terreiros

                  Terreiros, (*1) with the blessing  of  Orixás (*2) are prolific  in musical talent. Endessly,  singers, composers, drummers and  other  musicians  come  around  like fruits  in fertilized  soil.  There is  so much  talent,  but I wonder if  the initiatives  are also abundant in order to research,  develop,  transform or recreate  the Orixás music. Talent is  skin  deep,  however  the  timing  to make  it  productive  doesn't  seem  so  present.

                  As we know, the brazilian  sacred feminine is hugely  misunderstood, disrespected, even demonized and misrepresented  by  some  false  adherents who says  that they  can "bring the beloved" (among  others nonsenses). But what about us  who get  our religion  seriously? We think  of strategies  to  show  the meaning  and importance  of the Orixás worship? The issue is  complex  and I do not  dare to answer. But  I've been doing some reflections. We can  to express  the whole depth,  richness  and beauty of Orixás trough art.

                  I notice  there is  little initiative  in studying  and  improving  techniques  of singing, as well  as more carefully  researching  African Music.  Little  experiences  with  different  instruments, little  experience  with mix  of  rhythms,  innovation, etc. Anyway,  works  that  extend  and  recreate  Orixás music,  since  even  being  beautiful  and rich,  like  any  cultural product,  needs  to communicate with  the world around them and to enrich and be  enriched  in  return.

                   Many singers come out  of the community, since music  is an important  part of rituals, but  by several  factors, this pure  and strong musicianship  which  comes  from  the  ground  may not  achieve its best  form. First,  people  have to make a  living material  in a job  that  leads  to greater and  better  part of  his time and perhaps of  its energy.  Moreover,  the religious  community  exists  because  of a psychic  and spiritual  work where people  also need  to  invest  time and energy. The leftover time is for  rest (And  indeed,  there is not much). Then the musical  and  artistic studies  generally take  one  of  the last  places  on the scale  of priorities. So it is difficult  for us  to study  music and acquire  of  technical and  theoretical  knowledge. But  with  all difficulties  and obstacles  of life,  we have  to think  a bit before  saying  that  the  study  is totally  impossible.  if the  driving  force  in the middle  trap us  in the mere repetition  of tasks facing  the survival why not  mobilize a force within  us to drill  the lock  and the extent possible, seek progress to a broader level? Our  "raw material" is an  incredible rhythm,  great  musicianship   and  great ancestry.  For  larger and more  dificult as they are obstacles,  the will  and faith can do miracles. With  this potential,  we can go far. Everything  is possible  for those  who believe, trust  and work. Although we do no achieve  the  goals set  initially, life  never   leaves us  without  and  answer.  The universe conspires. The cult  of Orixás has long  been  important  in Africa and Brasil and will now spreading  to South America.  Let's to appreciate ourself.  It's up to us and only  us a greater  awareness of our value.  To have  stimulus  to work  and realize beautiful  and  interesting  art projects. Does anyone  doubt  that we can?


(*1) terreiro=Temple  where  peoples  worship Orixás
(*2) Orixás=Deities  brought  to Brasil  by our african  ancestors

domingo, 25 de março de 2012

Exclusão social gera auto exclusão III

                                                    A música dos terreiros


             Os  terreiros, com a bênção dos Orixás, são prolíficos  em talentos musicais. Incessantemente cantores, compositores, percussionistas e outros artistas surgem aí  como bons  frutos em terra  adubada. Observando tanto  talento me pergunto  se também  são abundantes  as iniciativas  no sentido de pesquisar, elaborar,  transformar  ou  recriar  a música  dos terreiros.  O talento   está à flor da pele, no  entanto,  o senso de oportunidade para torná-lo  produtivo  não parece tão presente.

             Como sabemos, o sagrado feminino  brasileiro  é tremendamente  incompreendido, desrespeitado, demonizado e até  deturpado por alguns  falsos  adeptos que entre outras bobagens  dizem  "trazer a pessoa amada".  Mas e nós que levamos a sério? Pensamos em estratégias  para mostrar o  significado  e a importância do culto dos  Orixás? A questão é complexa  e não ouso  dar uma resposta. Porém,  venho fazendo algumas  reflexões. Podemos fazer  da  arte um recurso  para expressar  toda profundidade,  a riqueza e a beleza  do sagrado feminino  brasileiro.

             Reparei que  há pouca iniciativa  em estudar  e aprimorar  técnicas  de canto assim como em   pesquisar com mais cuidado a música africana. Pouca  experiência com instrumentos  diferentes,  pouca  experiência  com  mescla  de ritmos, inovações etc.  Enfim  trabalhos que  ampliem e recriem  a música de terreiro, uma vez que  mesmo  sendo bela e rica, como qualquer  produto  cultural precisa dialogar  com o mundo a sua volta e enriquecer e ser enriquecido na troca.

              Saem muitos cantores  do terreiro,  uma vez que a música  é parte  importante  dos rituais,  mas por diversos fatores, essa musicalidade tão pura e tão  forte  quem vem do chão nem sempre pode  alcançar  sua  melhor forma. Primeiramente as  pessoas têm que ganhar a vida material num  emprego que leva a  maior  e melhor parte de seu tempo  e talvez de sua  energia. Além disso,  o  terreiro  existe em função de um trabalho  espiritual  e  mediúnico  no qual  também  é preciso  investir tempo e energia.  O tempo que sobra é para  descanso ( e aliás, não sobra muito). Então os estudos musicais e artísticos de um modo  geral ocupam um dos últimos  lugares na escala de prioridades. De modo que é difícil  para nós dos terreiros  estudarmos e nos dedicarmos  à música  e à aquisição  de conhecimentos técnicos  e  teóricos. Porém com todas  as  dificuldades e empecilhos  próprios  da  vida,  é preciso  pensar um pouco  antes de dizer que o estudo  é totalmente impossível.  Se a força determinante  do meio nos  aprisiona na mera repetição de tarefas  estéreis  voltadas  para  a sobrevivência por que não mobilizamos dentro de nós uma força para furar este bloqueio, e na medida do possível, procuramos  a evolução  num nível mais  amplo? A nossa "matéria prima" é um ritmo incrível, muita  ancestralidade e muita musicalidade.  Por maiores e mais difíceis  que sejam os obstáculos  a vontade e a fé são milagrosas.Com este potencial, podemos ir longe. Tudo  é possível para quem  acredita, confia e trabalha. Ainda que não alcancemos  as metas estabelecidas inicialmente, a vida nunca nos deixa sem resposta. O Universo conspira. O culto dos Orixás há muito que  é importante na África e no Brasil e já vai se  disseminando  por toda  a América do Sul.  Não vamos esperar  que nos dêem valorização de favor, cabe a nós e somente a nós  uma consciência mais aguda do nosso valor  que será estímulo  para trabalhar o potencial dos  terreiros  e concretizar  projetos artísticos  belos e  interessantes. Alguém  duvida que nós podemos?

domingo, 18 de março de 2012

Social exclusion creates self exclusion II

                                                     My personal case

            I remember as a chil, I lived  with peoples  who spoke  a lot  about  cars.  Indeed,  few of  these peoples  could by a car. It  was just a hype. Occasionally,  someone  could buy his car,  then this one  almost  becomes king. He was  the center  of  attention. Well, I don't  know  if  the  person  or  the  car.

            As for me,  never crossed  my mind  to have a car. Having  or not having  a car was  indifferent to me. I was  not anxious  about whether  or not  some day I could  be the  happy  owner of an automobile.  I even  had dreams  for my adult life. Profession,  family,  relationships,  several things. But not car.  To tell  the truth  I never  thought  very rational  private  vehicles in a metropolis. At least,  not as it is used. Not that  I have a peeve  with cars. I always  loved   cars  rides,  to see the  landscape  moving  away  from the window, the wind  in my   face,  the comfortable and soft  chairs.

           If  I've  never  been   radically  opposed  to cars,  why  I have  lived  for years and  years  riding  in a bus? Nor do I know. As a young woman I was  convinced that the cities  should  have quality  public  transport. Then  came more reasons ( or  excuses). One day  I was  going  from one school  to another, bouncing around in a bus with a bag full of gradebooks  and proofs, clarity came to me suddenly. Oh my  God,  I need a car!

           I didn't  give up  of  my  convictions,  but I tempered it with  some maturity. There is no convicction that can  withstand  thirty years of crowed  bus!  Especially  when  nothing  is done under  those  convictions. While  I was dating  my  utopia with public tranport    the amount  of  vehicles on the streets  was multiplied  many times over, so today,  I not  only got to ride the bus  but I have  face traffic jams. And after  the insight? Everything  remains  the same because  I didn't  get  learn  drive  enough  to pass  the test  of the Traffic Department and get  my  driver's  license.

           Hopefully  this post  is funny because  the experience  is  some  dramatic. Today,  looking  back  I see  it was my  inability  to balance  idealism  and survival.  Now,  in my  opinion  is  better to do something to denounce  the poor  quality  of public  transport  and buy  a  car.  Good  that  I've environmental  awareness, but  I not  didn't  win  anything  for me  or for the  city only with  tired legs. There was no merit  in my almost  indifference by  car  but   unable  to find  a focus,  a strategy  to pursue  my  way of being  and  thinking.  I'm  paying  a high price  for nothing. Years  and  years  under sun, rain and others  difficulties. I had damage to health.  I didn't  politicize  my  choices  and also  I didn't  to know  to find  a vein  of claims  for my ideas. This is  only  suffering, self exclusion of welfare,  lack of self love, failure in self observation, find my own  needs  and  take  care of  myself.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Exclusão social gera auto exclusão ll

   
                    Meu caso pessoal
     
 Lembro-me que quando criança, vivia num ambiente em que as pessoas falavam  muito sobre automóvel. Falavam,  porque ter mesmo,  poucos podiam. Era um falatório só. De vez em quando,  alguém  conseguia comprar um, aí quase virava rei. Era o centro das atenções. Bem, não sei se a pessoa ou o carro.

          Quanto a mim, nunca me passou pela cabeça ter um automóvel. Não queria nem deixava  de querer. Não curtia  ansiedades sobre se algum dia  seria ou não a feliz proprietária  de um automóvel. Eu até tinha sonhos para a minha vida de adulto. Profissão, família, relacionamentos,  várias coisas. Mas carro não.  Pra dizer a verdade nunca achei  muito racional veículos particulares  numa metrópole.  Pelo menos,  não como ele é usado. Não que eu tenha  alguma  implicância com o automóvel. Sempre gostei dos passeios  de carro, de ver a paisagem  se afastando pela janela,  do vento no rosto,  das poltronas confortáveis e macias ( Já esse deslumbramento  que há em torno do automóvel como símbolo de status, acho  besteira mesmo).

                 Se nunca fui radicalmente contra automóvel, por que tenho vivido  anos e anos  andando  de ônibus? Nem eu sei. Quando jovem era a convicção  de que as cidades deveriam ter  transportes coletivos de qualidade.  Depois foi mais isso e mais aquilo. Até que um dia, indo de uma escola para outra, sacolejando dentro de um ônibus,  com uma sacola cheia  de diários e provas,  a clareza me  veio de repente. Meu Deus, preciso de um carro!

                 Não abri mão de minhas convicções, mas temperei-as  com algum amadurecimento. Não há  convicção que aguente  trinta anos de ônibus lotado! Ainda mais quando não se faz nada pelas ditas cujas convicções. Enquanto eu namorava  a minha utopia  com transportes coletivos a quantidade de automóveis nas ruas  foi multiplicada vezes sem conta, de modo que hoje, eu não só  tenho que andar de ônibus como enfrentar engarrafamentos. E depois do insight? Continua tudo no mesmo porque o pouco que consegui  aprender a dirigir, não dá para passar na prova do detran.

                 Tomara que o post  esteja engraçado porque a vivência está meio dramática. Hoje, olhando para trás, o que vejo  é uma  incapacidade  da minha parte de equilibrar idealismo e sobrevivência. Agora, sou da  opinião de que  é melhor pensar  em algo  para  denunciar  a má qualidade  dos  transportes  coletivos e comprar  um carro. Legal que eu tenha  consciência ambiental, mas não conquistei  nada nem  para mim nem para  a cidade  só com o cansaço das pernas. Não houve mérito algum na minha quase indiferença  pelo automóvel mas incapacidade  de encontrar um foco,  uma estratégia  para  exercer  minha  maneira de ser e pensar. Estou pagando um preço alto por nada. Anos e anos sob sol,  chuva e outras  dificuldades é um preço  "salgado". Tive  até  prejuízos em saúde. Não politizei  minhas escolhas  nem soube achar um veio  reivindicatório  para minhas idéias. Isso é somente sofrer, auto exclusão  do bem estar, falta de auto amor, de saber se observar,  suprir  as   próprias  necessidades e cuidar  de si mesmo.  

segunda-feira, 12 de março de 2012

Social exclusion creates self-exclusion l

                       Today, social exclusion is a matter  adressed in a thousand ways. Even knowing  this,  I would like to bring  here another  way to drive  the theme, arising  from my  personal  experiences. Exclusion may start  in the social sphere( with a factor as black slavery for example) and by  a strange  and  darned  maze of  unhealthy  experiences,  future  generations  will inherit  the disease from  previous  generations  until,  at a moment,  which  was social exclusion  becomes self-exclusion . Symptom  of  self-exclusion is someone  don't doing  enough  for  his own  benefit, is don't take  the chance  that  is  very  accessible. Not  that  the chances  are abundant. But they aren't  totally absent.

                       The exclusion  acts within individuals and  blocks his existential wealth,  consciousness and wholeness. Peoples marked by  social  exclusion are neither  alert  nor  subjects of their lives (some exceptions). Emotionally  dissociated they  go through  life more or less awaked,  half  stumbling,  falling  and  rising ( or not). They are  not  able to avoid  obstacles  or to identify  the resources  that will be useful..I know that my observations are not very accurate  because it does  not follow  any methodology. My field of observation is my own  experience, which  can even generate a report  contaminated of subjectivity. Besides, I have  no claim  to exhaust  so complex subject. However, in  my simplicity,  I know  I'm not  talking  about  something  so subjective that I can  not share. The phenomenon is known by many   people that will surely  understand me.  And  it is not  difficult  to find   anyone  who has  tasted  this bitter  drink.

                       Probably some  objections  that is a vicious  circle  and in the end  everything  falls into the ditch of social exclusion, whick is an external  factor. Okay, I agree. I just want to remind  that just as the circle  can begin  anywhere can also be  intercepted  anywhere.  How about  request   something of ourselves? We demand  that the government  is bad and pa-ta-ti pa-ta-ta. And really  the government is very bad. Then the  socially  excluded  is hopelessly lost in  the grip  of  human  incompetence  and  perfidy?  Not so,  beyond  anything  that is damaged  is the bounty  of life  and there  is always  something  a  person  can do for  herself. View from  this  perspective can reveal interesting  aspects  and generate  new directions  for our lives.

                       The following  posts: "my case", "terreiro music", "there are talent in our home", illustrate  the phenomenon mentioned.

domingo, 11 de março de 2012

Exclusão social gera auto exclusão l

                   Hoje em dia exclusão social é um assunto abordado de mil formas. Mesmo sabendo  disso, gostaria de trazer aqui mais uma maneira de conduzir o tema, advinda de minhas  experiências pessoais. A exclusão pode  começar na esfera  social ( com um fator como a escravidão negra por exemplo) e por um  estranho e maldito  labirinto de vivências  doentias  as gerações vindouras  vão herdando as doenças das gerações anteriores até que,  num dado momento, o que foi exclusão social se transforma eu  auto exclusão. Sintoma de auto exclusão é não fazer  o suficiente em benefício próprio, é deixar  de  investir  na chance que está ali perto pedindo pelo amor de Deus me aproveite. Não que as chances sejam muitas. São poucas nas verdade,  porém não inexistentes.

                  Vindo de dentro dos indivíduos o processo  excluidor  age bloqueando  a riqueza  existencial, a consciência e a inteireza dos indivíduos. Pessoas marcadas  pela  exclusão social não são alertas  e muito menos sujeitos de suas vidas (salvo exceções). Emocionalmente dissociadas, seguem pela vida mais ou menos acordadas, meio trôpegas, caindo e levantando (ou não). Não são peritas  em identificar  os obstáculos  para evitá-los  ou detectar  os  recursos que lhe serão úteis.

                  Sei que  minhas observações  não são muito  acuradas  porque não segui  nenhuma metodologia. Meu campo de observação  é minha própria vivência, o que pode até gerar um relato contaminado de subjetividade. Além do que, não tenho pretensão de esgotar este assunto tão complexo. Porém, na minha simplicidade, sei que  não estou falando algo tão subjetivo que não possa  ser  compartilhado. O fenômeno é conhecido por muitos, que eu sei,  vão me compreender. E não é difícil  encontrar quem  já tenha provado desta bebida amarga.

                  Provavelmente algumas objeções  de que trata-se de um círculo vicioso e que no fim  tudo cai na vala da exclusão social, a qual age  mais de fora para  dentro. Certo, estou de acordo. Só gostaria  de lembrar que assim como o círculo  pode começar em  qualquer  lugar  também  pode ser  interceptado em qualquer  lugar.  Que  tal,  só  para variar  solicitar  algo de nós mesmos? Reclamamos que  o governo é ruim e isto e aquilo. E é mesmo. Então,  o excluído  social  está  irremediavelmente perdido nas garras da  incompetência e da perfídia  humana? Nem tanto,  bem além de tudo  o que é deteriorado  está a generosidade  da vida  e sempre há  algo  que uma pessoa   pode fazer por si mesma. Ver por este ângulo pode revelar aspectos  interessantes e geradores  de novos rumos  para  nossas vidas.

                  Os próximos  posts: meu caso pessoal,  a música dos terreiros  e  talento de casa também faz milagre ilustram o fenômeno  citado.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Águia e o portão no carnaval de 2012

Pra que portão no samba
que vem do chão
que vem da alma
tanto portão cerca
a alma
pro povo não sair
na Águia de Ouro
na Portela
pra deixar de fora
a velha guarda
tanto portão
onde antes só tinha chão
tanta corda onde
antes era só olho
tanto bilhete no que
é de graça
pra que portão
para o que é só coração
samba e portão
aí, não combina não
Também de plumas
e paetês
se fazem prisões
só luxo na televisão
Em Rio dos Macacos
não precisa disfarçar
que ninguém tá vendo
serve o velho portão de porrada.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Limpando a casa

Tanta poeira
nos meus chinelos
sujeira nos cantos da casa
prego a manga da camisa
encontro farelo
nas gretas incontáveis da casa
Que impulso é esse
que me atarracha à  casa?
coisa feita
compulsão ancestral
limpar uma casa
é andar em círculos
atrás da sujeira
que vai atrás da gente
pó nos cabelos
mãos gordurosas e ásperas
de lavar a borra do café
caso de amor esquisito com o tanque
amante medonho
obscuro
com seus olhos de limo
e um corpo compacto
é um safado
que devora meus quadris
coisas espalhadas
em cima das cadeiras
me dando ordens
e eu sem conseguir me defender
Eu numa peleja incrível
e elas contra mim
se divertindo
numa paz invejável
que eu não  alcanço

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Esperança

A estrela não luziu
no meu dia que finda
não sou Bandeira nem nada
mas a esperança me incomoda
como areia na garganta
vidro moído e rascante
mordo pão com mortadela
teu rosto é como um desgosto
ondulando no éter
holografia desinibida
ofendendo minha paixão descuidada
com  insistência e desafeto
meu rosto não está desfeito em brumas
está concreto e avisado
que viagem de paixão
só tem bilhete  de ida
e não dá prêmio de volta
teu rosto é silêncio e pronto
é ovo sem ter galinha
é o dito pelo não dito
o que quase nunca é dito
eu me assusto e solto um grito mudo
quero ver teu silêncio
correr para o meu grito mudo
se encontrarem atrás do meio-dia
nas frestas do ar
na coloração do olhar
nas  pontas dos dedos
não quero obedecer aos apelos  do medo
por isso acordo mais cedo
e faço um poema para cutucar
uma massa enorme  de lembranças
e asso no forno
para fazer um pão
com gosto do teu rosto