sábado, 23 de abril de 2011

As flores e a fome

Alguém postou no mural do facebook  a foto  de uma criança  vítima  de inanição. Sem ter forças para  ficar  de  pé ou  sentar-se,   estava   deitada  no  chão. A subnutrição atrofiando-a  rudemente. Toda a graciosidade  infantil  vilipendiada e  abandonada  ali  na  paisagem como  se  fosse  um  graveto sem importância.
Momento difícil ver esta cena, constatar que a fome  é um verme  a  roer  as vísceras  de nossos  pobres modelos  de organização  sócio econômica.
Não sou  de culpar  governos. Aliás, não culpo ninguém,  porque  procurar  culpados não melhora nada, não alimenta ninguém, não cura  a  doença. Culpa é venenoso  e  tóxico  e só  contribui  para agravar  o  problema. Não sou amarga ,mas  as cruas  imagens  que  ilustram as distorções  que  andam  soltas  pelo  planeta,  me  deixam  desnorteada. Esta  sensação desagradável, mesmo sendo momentânea, é bem difícil. fico dividida entre um pueril acesso de indignação ou  a  atitude  escapista de fechar  os  olhos e  fingir  que não vi o que vi. Como é difícil para mim,  que adoro imagens  românticas  e  líricas, a tarefa  de  sintonizar meu  dial com um canal tão árduo.
Presa de uma inquietação  incômoda, sinto que preciso expressar  algo. Preciso dizer que o menininho  está lá  como  uma  florzinha  murcha  e  encarquilhada. Flor que  parece  não  ter  brotado,  de tanto que estava  agarrada  ao chão.
embora haja  mil  caminhos para  continuar  esta história, eu fico por aqui. Mas ele continua lá faminto e magrelo.  A saída para todos nós (acredito que este  sentimento de impotência seja de muitas pessoas) é não ceder  à  acomodação de culpar ou inocentar  alguém,  não  lembrar  demais  nem  esquecer  demais. Talvez   contribuir  com algum  dinheiro, ajudando  assim aqueles  que estão fazendo  algo  de concreto  em  prol  dessa  causa.
E depois  pedir  a Deus  para conseguir  dormir  bem  e  sonhar  com muitas  flores e um parque repleto   de  crianças  bem  alimentadas. Quem sabe  também  ccom algumas estrelas  para iluminar  certos  ângulos não muito  claros do nosso  humano comportamento.

 Estou na contra-mão do Vandré. ele queria abordar  temas  polêmicos,   mas  a ditadura o impedia. A mim, ninguém  impede de polemizar, apenas  meu lirismo é louco por temas suaves.
Ele foi lírico e polêmico   nesta  canção genial

Para  não dizer que eu não falei de flores
Vandré (Geraldo)

"Vem vamos embora /que esperar não é saber/quem sabe faz a hora /não espera acontecer
pelos campos a fome/em grandes plantações/pelas ruas marchando indecisos cordões/ainda fazem da flor /seu mais forte refrão/e acreditam na flores/ vencendo o canhão.
someone posted  in the facebook  wall a picture  of a child victim  of starvation. Without  strength to stand  or sit,  he was  laying  on the ground. The child  graciousness  grossly stunted by  malnutrition reviled  and  abandoned  there in the  landscape like  un unimportant  twig.
How difficult to  see  this  scene! Is  difficult  to  see  that  hunger  is  a worm gnawing  the  guts  of the poor  model  of  socio economic  organization  existing  on  the  planet.
I'm   not  blaming  governments. Incidentally,  I do not  blame anyone because  look  for  guilt  does not improve  anything,  does not  feed  anyone,  does  cure  disease. Guilt  is poisonous and  toxic and  will  only  aggravate  the  problem.
But  the  raw  images  wich  illustrate  the  distortions   that wander   the  planet,  leave me bewildered. This unpleasant  sensation, even  if  momentary, is very  difficult. I'm torn  between a childish  indignation access  and  a  escapist  attitude  of  close my  eyes   and pretend  I have  not  seen  what  I saw.
I love romantic and lyrical  images but now  I have  to give them up to tackle a difficult and  hard topic. Taken by  an  unconfortable   restlessness,  I feel  I must  express  something. I must say that  the little  child  is there like a wilted and  wrinkled  flower. Flower that is not  born, gripping   the  ground.
Although there  are  thousands  ways  to  continue  this story,  I'll stop here.
I think, the  solution  to  all  of  us  is  not  to  blame   or  exonerate  anyone ( I  believe  that  many people  have  this  feeling  of  impotence). Also do not remember too much  or to  forget  too much.Maybe  give  some  money,  thus  helping  those  people who  are  doing  something  concret  for this cause. and then ask  God  to  get  sleep  well  and  dream  of   flowers  and  a  park  full  of  well-nourished children. Perhaps  also  with  some  stars  to light certain  dark  corners  of our human behavior.

domingo, 17 de abril de 2011

palavras trêmulas

A saliva colorida
escorre pelos grãos de areia
seres viventes
que expõem  seus nervos
em fissuras cristalinas
pontas soltas de lençóis
queimados pelo fogo
de um amor
enfurecido de não se dar
tecido em vidro e  represado
em lágimas que escorrem
silenciosamente  pelo rosto encharcado
palavras que  pediram minha moradia
para escreverem um  enredo
tramado pelos fios da vida
pelas teias das aranhas
era assim que as velhas bruxas
prendiam nosso destino?
em cima da lareira  há  relógios
que marcam o tempo
medindo nosso merecimento
em horas trabalhadas  e
comidas mal feitas
em cima da mesa
se desmancham
em novos choros
em amizades coloridas
cozidas em fotos abafadas
dentro dos armários
couve flores  pesadas que  guardam
o sabor de sal
aperto o sol nas mãos
e ele escorre
entre meus dedos

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cotidiano de um planeta

alguém desiste
alguém  persevera
alguém assassina
alguém é assassinado
alguém  fecha a  torneira
alguém se despede
e não volta  mais
alguém volta e
fica para  sempre
uma criança chora
outra balbucia
outra ri
outra  morre
alguém abre um livro
alguém fecha
a tampa de uma caixa
alguém não tem pão
alguém não tem casa
alguém compra um castelo
alguém rouba uma banana
alguém  é  condenado à   morte
por um crime que não cometeu
alguém é condenado à morte
por um crime que cometeu
alguém comete um milésimo crime
e  ninguém  fica  sabendo
ou todos ficam sabendo
mas ninguém faz nada
alguém troca a camisa
compra um  sapato
lê um  revista
liga a TV
fecha a  bolsa
senta ao piano
vai  acampar
vai trabalhar
chuta uma bola
fica feliz
chora
o trivial, a tragédia e o encanto
ferem nossos dias
por cidades e campos
sam sabermos uns  dos  outros
o assassino não sabe de quem
se  despediu
quem sentou ao piano não
viu quem foi assassinado
experimentamos todos
a dor e o prazer
de sermos sós e únicos
procurando através
das brumas, das cinzas,
dos telejornais, das palavras, dos gestos
o irmão que perseverou
o irmão que matou
o irmão que leu a revista
a criança que brincou
com estrépito, ânsia ou silêncio
sonhamos, buscamos ou abandonamos
um dia,  quem sabe?
as notas desafinadas
desta sinfonia desajeitada
soem  numa freqüência
mais condizente
com o amor e a paz
e mesmo longe da perfeição
sejamos
um pouco menos fechados
um pouco menos separados
um pouco menos estranhos
um pouco melhores
um pouco mais fraternos
um pouco mais próximos

A planet day-to-day

Someone desists
someone perseveres
someone murders
someone is murdered
someone closes the tap
someone says  goodbye
and  doesn't  come back
someone  returns  and
stays forever
a child cries
the other  one babbles
another  one laughs
another one dies
someone  opens a book
someone  closes
a box tap
someone doesn't  have bread
someone  doesn't  have a home
someone  buys a castle
someone  steals  a  banana
sosmeone  is  sentenced to death
for a crime he/she  did commit
someone  commits the thousandth crime
and nobody  gets to know it
or everybody knows
but  nobody  does anything
someone   changes  the  shirt
buys shoes
reads a magazine
turns  on the  TV
closes the  bag
sits at the piano
goes camping
goes  to  work
kicks off a  ball
is happy
cries
The trivial, the tragedy and the charm
injure our days
through cities  and  land
without  knowing  anything from each other
the murderer   did not know  whon
he told  goodbye
the person who sat  at  the piano
didn't  see who  was  murdered
we all  experience
pain  and  pleasure
being alone and unique
searching  through
mist  and  ashes,
of the newspapers, the words, the gesture
the brother  that  persevered
the brother  that  killed
the  brother  that  read  the  magazine
the child that  played
with  clashes, anxiety  or silence
we dream, we seek or  we  give up
someday, who knows?
the out-of  tunes  notes
of this ungraceful  symphony
sound  at one frequency more harmonic
with love and  peace
and even  far from perfection
let us be
a little  less  closed
a little  less separeted
a  little  less stranger
a little  better
a little  more fraternal
a little  closer

sábado, 2 de abril de 2011

rolimã troller

On the slopes of  São Carlos
up and down  repeatedly
They carry  one  hundred time
the dust  of the ground  sticks
swety dirt
in their small and imp face
in their quick hands
dropping chords
shaking  nerves
releasing fear
falling on the slope
Does the target  travels  in a breakable  rolimã troller?
the fate  tends  to go like crazy
in a blundering  flight  on  a
breakable rolimã troller
on the slopes  of  São Carlos
in children's  wing
maybe a crazy atom
exciting many orbits
in a confident brim
and finally  precipitate
with skill  and accuracy

carrinho de rolimã

Na ladeira do São Carlos
sobe e desce repetido
no cem vezes carregado
o pó do chão  gruda
a sujeira suada
na carinha moleca
nas  mãos  ligeiras
soltando cordas
balançando nervos
libertando o medo
despencando na ladeira
o destino viaja ele
num carrinho de rolimã
na ladeira do São Carlos?
o destino se queda tanto
de viajar como louco
num vôo desatinado
num carrinho de rolimã
na ladeira do São Carlos
nas asas das crianças
talvez seja átomo louco
excitando muitas órbitas
num  confiante rasante
num exercício calculado
e no fim precipitado
com mestria e acuidade