sexta-feira, 15 de junho de 2012

Paul McCartney e a seca do Nordeste

         Mãos feridas e encarquilhadas,  unhas quebradas e sujas de terra, cabelos revoltos, pele  ressequida. Cobrindo o rosto com as mãos e engrolando a fala ele choraminga. Clama por Deus. Ou melhor, reclama por Deus, pois já perdeu  as forças para clamar. Sua silhueta compõe a paisagem  junto com  o solo rachado e fantasmagóricos arbustos de galhos secos.

          Ele é um camponês  do Nordeste do Brasil dando depoimento  ao jornal da Globo News. Em alguns lugares do Nordeste a seca está avassaladora. No chão,  o mapa de rachaduras é sinistramente  interrompido  por carcaças de boi. Velho e repetitivo cenário de reportagens de TV,  de revistas , documentários, ficção. Tão sem novidade que a gente nem acredita  que ainda esteja vendo aquilo  depois de tanta  globalização,  tanto fome zero,  tanto surto de crescimento.  O discurso de  modernização  sendo adotado com fervor e a seca destruindo  a   lavoura, o gado, as pessoas. A seca mesmo não tem culpa de nada.  O comportamento da natureza  ali  é totalmente conhecido e muito previsível.  A displicência e a falta de cuidado  está na ausência  de  medidas,  recursos ou instrumentos que interfiram  modificando  os agentes naturais. Em plena era da industrialização, não dá para acreditar  que não  haja ferramentas  ou  tecnologias  para garantir a a sobrevivência no período de estiagem.  Tecnicamente  a solução é relativamente fácil e financeiramente  também é viável.  Pode ser que dê trabalho  criar e pensar,  mas talento é o que não falta no Brasil. E então eu comecei  a me perguntar porque este enorme e vergonhoso  atraso perdura no Brasil.

      Próximo programa. Cabelos castanho escuro caindo numa franja basta, emoldurando um rostinho jovem e encantador. Pele sedosa e brilhante, voz melodiosa e afinadíssima. A guitarra parece  fazer parte do corpo de tão bem que fica ali. Quanto charme, encanto e sedução! Corte da câmera.  Senhor de 70 anos já não tão eletrizante, porém não menos charmoso, não menos brilhante. seguindo as imagens da Globo News, meu texto  foi da seca para Paul McCartney. Maravilhoso  o espírito humano  capaz de sentir, pensar,  aprender,  ensinar,  trabalhar,  sonhar,  estabelecer  metas e objetivos. Dá gosto ver alguém inteligente, maduro, saudável,  criativo e atuante. O ser humano é um fragmento de Deus e   capaz  de realizar maravilhas, transformar a si  e ao mundo  para melhor.  É assim  que a gente figura  nos planos de Deus, que nos impulsiona e nos convida a evoluir.

      Eu estava encafifada querendo entender o atraso do Nordeste e Paul McCartney foi a resposta. Peraí, eu explico! Veja onde quero chegar: Cuidar da questão da seca é cuidar do ambiente. Cuidar do ambiente é levar informação às pessoas. Informações dizem  respeito à saúde. Saúde e educação são fatores  profundamente associados. Por  conseguinte o par  escola e hospital será inevitável. Se tem escola as pessoas aprendem a ler. Se aprendem a ler vão buscar livros e entram em contato com idéias. Aí começam a futucar as próprias idéias, a questionar,  descobrir,  avaliar e identificar  desequilíbrios. Entendem que estão sendo lesadas,  começam a reclamar e no momento seguinte articulam  as reclamações.  Aí é a evolução chegando e ela pode  pedir menos  distorções na distribuição de recursos. Nada interessante para a  casta de privilegiados do Nordeste, não?

        Quanto poder  existe  na inteligência  educada,  no talento burilado! Figurinha linda a do
Paul McCartney! Um ser desabrochado, exuberante, criando a todo vapor, arrebentando  convenções, mudando  o mundo. É o que acontece quando as necessidades básicas já não  são mais  preocupação.  Já pensou o Nordeste sem problemas  ambientais ou sócio-econômicos?  Já pensou  Dona Evolução instalada liberando  o potencial   de produção e criação  do povo? Que espaço sobraria  para  os privilégios, latifúndios e desequilíbrios? Imagine se camponeses que até ontem  só podiam  lamuriar-se,  saem por aí  destabocados e desinibidos, falando  o que bem entendem  e entendendo tudo. Se saem cantando,  sonhando,  e fazendo sonhar, inventando modas,   propondo soluções novas,  cabeça  fervilhando  de idéias originais. É....Coronel   Privilégio  ia coçar os piolhos.

2 comentários:

  1. AMORA LYS,

    como cidadão estou lhe aplaudindo de pé,entusiasmado com sua contundente demostração de lucidez e uma extraordinária capacidade de analogias irretocáveis.

    Nossa ,parece que o Brasil está vivo, lendo você, que saimos desta mesmice que é o circulo vicioso:Corrupção,desrespeito,vantagens pessoais, esquecimento do bem-estar coletivo, mais corrupção!

    Sabe, Deus premiou a nós humanos, e só a nós, com uma habilidade única entre todas as outras espécies vivas, a de fazer cultura.

    E a cultura humana é extamente,isso,ou seja, podermos dominar o meio ambiente para a nossa melhor adaptação e sobrevivência nele,usando técnicas e instrumentais os quais descobrimos, inventamos e aperfeiçoamos.

    Desta forma nos lançamos às conquistas espacias,dominamos o átomo, enveredemos pela fisica quântica,detalhamos e entendemos as cadeias genéticas do DNA enfim...

    Porém, como a analogia foi com o Paul MCartney,lembro a você que geraldo Vandré, já dizia que, a mesma mão que toca um violão ,faz guerra.

    As opções são claras e manda a boa cartilha da dignidade humana de que a guerra , a destruição,o desrespeito pelo semelhante, sejam sempre esquecidos quando está em jogo a virtude maior que nós seres humanos devamos manter uns com os outros:Dar as mãos!

    Lindo texto.

    Um abração carioca.

    PS.Caso fosse possível gostaria que com sua lucidez comentasse no meu novo blog que não é de humor: FALANDO SÉRIO.

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    1. Obrigada, Paulo. fico muito feliz com seu comentário porque vc tem uma visão muito aguda sobre a vida. Só peço a Deus que me ilumine e me dê força pra fazer meu melhor. Também adoro seus textos, de todos os estilos. Mooorro de rir com os de humor. Beijos

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