sábado, 23 de maio de 2015

Redução da indiferença social

       Há muito tempo deixei de postar no meu blog. Não que eu o tenha abandonado. A questão é falta de vontade mesmo. Andei turistando e estudando pelos Estados Unidos numas aventuras para descobrir novas coisas, pessoas, cores, sabores, cheiros etc. Enfim, dar novidades para os olhos e aprender um pouco forçando meus limites para além do familiar. Acontece que não foi muito fácil permanecer lá: Tive problemas para sacar meu dinheiro, procura de moradia e outras coisitas mais. Me envolvi com um monte de coisas e fui deixando os posts para depois. Moral da história? Meses sem postar.

      Para sacudir a preguiça e atiçar a caneta nada melhor do que um assunto que mexe com nossa cabeça e revolve o coração.  Ando ouvindo um estranho grito de guerra, um farfalhar nervoso das palavras  " redução, maioridade e penal".  Tenho notado que a medida conquista adeptos empolgados. Eles postam no face book, levantam cartazes nas ruas,  comentam nos ônibus, bares. Aliás, não só falam como agem. Tanto, que a tramitação da lei já até passou pela CCJ da Câmara. Segundo
 os argumentos a favor da redução,  ela vai colaborar fortemente para a solucionar a violência no Brasil, porque um percentual significativo de crimes são cometidos por menores de 18 anos. Olha, não leva a mal não, mas esse tipo de medida é que entra como uma faca na minha barriga.Não vou reivindicar a candura de um anjo para alguém que comete um crime. Também não nasci ontem e estou ciente de quanta loucura o ser humano é capaz . De modo que sou contra a redução da maioridade penal não porque  esteja fechando os olhos para o crime ou seja insensível ao drama da vítima.Muito ao contrário, acredito que uma opinião consequente  tem que lançar o olhar para o contexto da violência no Brasil.

 O que precisa esse país dilacerado pela fome,  rasgado pelo analfabetismo,  embotado pela escravidão,  vampirizado pela corrupção, assolado por doenças,  dominado pela ignorância e falta de informação? O que fazer com esse imenso país atravessado de norte a sul e de leste a oeste pelos desmandos e desleixos de seus governantes e pela desorientação de seus habitantes? Nem me aventuro aqui a fazer uma lista de medidas necessárias para o Brasil se tornar um país razoável, senão o post não termina nunca. 

Eu só pediria às pessoas modernas, letradas e evoluídas que dessem uma olhadinha em quanto conhecimento a humanidade do século XXI já pode agregar a sua vida:  Ciências sobre a sociedade, doutrinas e sistemas filosóficos, as várias modalidades de direito, medicina em suas várias especialidades,  psicologia, pedagogia e muito mais. Estranho que certas  pessoas nem cogitem desse progresso  quando se trata de resolver os problemas da sociedade brasileira. Quer dizer, o Brasil é um país que precisa de tudo e simplesmente tudo está por fazer. Não é mais lógico partir para fazer  um país? Não acho equilibrado proceder a um investimento pesado na punição quando a organização, a prevenção e a educação são praticamente inexistentes.


      Não acho que se deva ignorar a culpa e a responsabilidade de cada um nos seus atos criminosos, mas no equacionamento, prevenção e combate à violência  a questão social é de inegável importância.  Se os crimes cometidos por crianças e adolescentes provocam indignação, por que   a mesma indignação não vem à tona no caso das crianças jogadas no meio da rua e vendendo bala nos sinais? E sobre crianças espancadas e estupradas? E  crianças pobres que ficam vagando pela favela quando os pais precisam trabalhar o dia inteiro? E as que sofrem assédio do tráfico de drogas? E as que são assassinadas pelas vielas e até nas salas de aula?   Tudo isso me leva a crer que os partidários da redução da maioridade penal  pensam mais ou menos assim: Os desequilíbrios sociais podem até existir, contanto que não me atinjam. Uma pergunta eu gostaria de lhes fazer. Acaso estão se referindo a todo e qualquer criminoso, não importando de que classe social venha?  Pelo tanto que eu tenho ouvido e lido a palavra  pivete, não sei não...

domingo, 23 de junho de 2013

Silicones falantes e manifestantes mudos

      Caramba! Não tenho  nenhuma experiência com jornalismo, mas se eu fosse fazer a cobertura  das atuais manifestações no Brasil, eu faria  bem melhor do que a rede globo. Eu simplesmente diria "estamos aqui na avenida tal, são tantas horas e há uma multidão aqui portando cartazes, clamando,  gritando palavras de ordem. Vamos ver do que se trata". Em seguida disponibilizaria o microfone para uns manifestantes e deixaria que eles falassem o que quisessem. Tomaria o maior número possível de depoimentos e mostraria todos. 
      O que viria  nesses depoimentos?  Provavelmente  problemas  e insatisfações de toda ordem ( a grande maioria com fundamentos sócio-econômicos), já que está mobilizando o país inteiro. Como não sei fazer reportagem nem mesmo me posicionaria a respeito de nada, telefonaria logo para a Fundação Getúlio Vargas ou para as universidades. Perguntaria a alguns cientistas sociais, economistas, filósofos e outros especialistas, o que eles pensavam sobre  sobre o fenômeno das passeatas. Mostraria todos os depoimentos. Conforme os assuntos que viessem à baila, eu mostraria  flashes de reportagens  como por exemplo: escolas sucateadas, pacientes no chão dos hospitais, imagens das CPIs das corrupções, ônibus lotados, reivindicações dos índios, assassinatos de líderes, barracos das favelas despencando durante as chuvas etc. Também mostraria cenas de quebra-quebra, violência e tudo o mais que se fizesse necessário  para casar palavras com imagens, o que para mim é a finalidade  de uma cobertura televisiva. 
      Caros telespectadores,  perdoem meus erros e relevem que é a primeira reportagem da minha vida. Saiu meio confusa,não é? Muitas das minha perguntas não foram oportunas, misturei opiniões pessoais quando não devia, não é? Mas ainda assim, minha reportagem convencional, mal alinhavada e amadora seria melhor do que a da rede globo. Vejamos os desfiles da escolas de samba. Os repórteres procuram avidamente  madrinhas de bateria,  destaques e famosos para garantirem um depoimento besta  que é sempre a mesma coisa: silicone empinado "ai gente, estou tão emocionada! maravilhoso! e virando para a platéia -aí galera, lindo, lindo."  Durante o big brother Brasil, copa do mundo,e alguns outros eventos é a mesma coisa. Depoimentos sem graça e repetitivos aos montes.
        E agora? Milhões de manifestantes nas ruas e quantos depoimentos? Cadê a voz dos que estavam fazendo a notícia? Eu vi mais ou menos uns quatro depoimentos: Pessoas falando em paz, amor ao Brasil,  alegria, tudo muito vago  e aquém das reais motivações do movimento, que tem reivindicações muito específicas e claras.  
       O número de manifestantes alcançam milhões  e os infiltrados  para fazer baderna, não são nem  a centésima parte. Por que então, as cenas de quebra-quebra  ocupam 70% das reportagens  e cenas da manifestação 30%?  Mantendo a câmera sobre as cenas de vandalismo, os repórteres  repetem várias vezes   coisas como: "a manifestação é pacífica, é preciso separar o joio do trigo,  estes são os legítimos representantes, etc". Como a linguagem da tv é calcada predominantemente na imagem, as palavras  ficam sem força e vazias. Repetir exaustivamente  o mesmo refrão não acrescenta nada se a imagem diz outra coisa. Afirme  algo só uma vez e mostre uma imagem que fundamente a afirmação. É o básico. Desculpe, não quero ensinar padre nosso ao vigário. Ainda mais quando o vigário não é bobo e sabe muito mais do que eu. Bobo não é,  mas prefere omitir quando isso lhe é conveniente.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Meteoritos assustam?

            Minha caneta começou a riscar o papel , buscando inspiração  para   um  post. E ela veio riscando o céu da Rússia com uma luminosidade  enorme,  estrondando e arrebentando  janelas,  como  algo que não admite  ser ignorado.  Chegou com tudo: velocidade, esplendor, estardalhaço e agressividade. Assustou muito e embora  não tenha sido catastrófico, causou ferimentos generalizados e considerável prejuízo material.
             Aqui embaixo nos sentimos impotentes  diante deste fenômeno  que vem do alto  sem avisar. Ficamos com mil perguntas penduradas na boca, sem  encontrar sua forma de expressão.  Como não temer um fenômeno  sobre o qual  não temos o menor controle? E quando ele vem não se sabe de onde, nem por que, com um potencial de destruição imprevisível? Meteoritos são intrigantes e ensejam  uma multidão de sentimentos e reações. Eles intensificam nossa  sensação de sermos formiguinhas  de um cosmos incomensurável e desconhecido.  Gostaríamos de saber, afinal, o que este  cosmos vai fazer de nós. São velhas questões que a humanidade adia para o fim da pauta e que nesta hora,   reivindicam seu lugar de destaque.  Não sei muito bem o que ele representa para a coletividade.  O que sei sobre o cosmos ou meteoros? Mas aqui vou embora numa viagem só minha. Algo dentro de mim é tocado  pelo incrível mistério  que é este cosmos tão rico e movimentado ao nosso redor.
               É notável  o quanto o cosmos é inteligente, organizado e amoroso. O amor e a proteção me parecem muito palpáveis. Lembram das viagens de Gulliver, quando ele  em  Lilliput  podia esmagar centenas de pequeninos com uma pisada só? Então multipliquemos  esta possibilidade por vezes sem conta, e eis-nos aos pés de um gigante fantástico e imensamente forte que pode nos acariciar com os raios mornos de um sol dourado ou com uma brisa suave, nos destroçar  com um tsunami, nos queimar com lavas vulcânicas  ou atirar meteoros sobre nós. Talvez a ciência tenha mil razões para me desmentir, mas meu ruminante interior acredita piamente  que a escolha é toda do cosmos. E o meu ruminante, assim tão vulnerável, ainda não morreu de medo? Não, não morreu. Mesmo na sua pequenez o bichinho consegue   enfrentar com a serenidade possível os momentos de abalo. O cosmos é portentoso  mas se dá ao trabalho  de soprar  suavemente nos ouvidos de pequenas criaturas. Assim diz ele a um pobre bichinho em aflição por motivos  tolos ou graves: Confia simplesmente. O dinheiro acabou? confia. O amor não voltou? confia. O tsunami arrebentou? confia. Poderia ter sido comigo?  sim, mas continua  confiando. O meteorito caiu? confia. Confia pois o amor não fere, não magoa, não mata. O amor só protege, só premia. O amor tem desígnios  amplos que nem  sempre são alcançados pela  compreensão Lilliputiana. Muitas vezes, tudo  nos parece sombrio, louco, incoerente, absurdo.  Porém, as razões do amor são tão maiores do que podemos medir...
                A dor aguça em nós  a visão do que é negativo e oblitera a percepção de dádivas até muito óbvias. É todo deste cosmos o poder de destruir  e embora algumas vezes o faça, vezes sem conta constrói!  Quantas vezes  nós mesmos  nos destruímos  e recebemos dádivas  de reconstrução? Quantas vezes não estaremos destruindo o planeta e ele se recompondo,se  auto gerando por misericórdia da vida! Já nem quero mencionar os milagres ostensivos  que rendem histórias. No caso, abordo o milagre de todo dia e toda hora, que de tão corriqueiro, nem prestamos atenção. Se o cosmos é aleatório e ocasional, quem faz nosso coração bater? De onde virá esta força  que age muito  além  de nossa interferência? Cada minuto  da vida é um estupendo,  inimaginável milagre, do qual nenhuma  capacidade humana pode dar conta.  Isso é o que me passa pela mente quando observo a organização,  o planejamento, o direcionamento necessários para se criar  de um verme a um sistema solar. Acredito que  o cosmos não só não age aleatoriamente como também é amoroso em seus propósitos.  Nem os absurdos e discrepâncias que grassam por aí, me afastam da minha maneira de ver. Já passei por algumas experiências tranquilizadoras, que me ajudam a amenizar este dilema. Mas são experiências subjetivas, só minhas, que se passadas adiante, não farão sentido por falta de consenso. O  que talvez sejam mais um lance genial de adequação do cosmos. Cada um com suas experiências, seu ruminante, seus dilemas etc.  O cosmos é assim. Não cobra, não apressa,  não exclui,  nem privilegia. Cada qual com seu cada qual. Contanto, que haja respeito, tudo caminha.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Retalhos de sonhos

     


        Estou   dando umas voltinhas  nos Estados Unidos e vendo o astral por aqui. Muito bom tocar algo que para mim sempre foi distante e meio imaginário. Sempre vi e ouvi montes de coisas que estimularam minha imaginação  e embora tivesse vontade de  vivenciar, não fiz grandes movimentos para isso. O movimento não veio assim de repente não. O meu caso é que nos últimos anos, tenho me sentido meio caipira, muito presa num mundinho resumido, indo de Jacarepaguá para Marechal Hermes  e vice-versa. E para aumentar  a mesmice,soam os bordões das kombis e das vans  informando o percurso aos candidatos a passageiros; Praça Seca, Luis Beltrão, Guanabara, Marechal. Cansativo, né?  Então, viajar para os Estados Unidos me pareceu um bom desafio, uma maneira divertida de procurar novas coisas fora dessa rotina.
        Não sei bem porque, mas tanto o Brasil quanto os Estados Unidos resolveram me presentear pela viagem. No Brasil a agência de turismo tinha um jeito estranho de atender pela internet. Passei dias e dias em frente ao computador. USA me brindou com uma penca de documentos e formulários,uma espera interminável no setor de imigração, e muita correria pelo aeroporto procurando o portão de embarque para fazer a conexão. Tudo bem, faz parte da aventura.
       Estou em San Diego, uma metrópole toda organizadinha onde o povo é  simpático e bem educado.
       Ontem visitei Los Angeles com Hollyood, Venice Beach e Santa Mônica Beach. Na calçada da fama, fotografei freneticamente todas as estrelas com os nomes que sempre bateram nos meus olhos ou ouvidos. Algumas pessoas comentaram que a calçada da fama não tem nada demais, que é uma bobagem, que as estrelas estão sujas etc e tal. Talvez  seja isso mesmo. É bem possível que eles  estejam certíssimos e eu não vou discutir. Só sei dizer que pra mim  a calçada   é interessante. As estrelas de cinema  são ícones de uma magia especial, pois sou vidrada em cinema. Sidney Poitier, claro, é uma pessoa como qualquer outra que faz xixi, cocô e tudo mais. Mas as cenas de Ao Mestre com Carinho estão gravadas em mim, quase como um carimbo. São doces lembranças. Eu fotografei as estrelas em homenagem a tudo aquilo que sinto quando entro na sala escura e espero pelas imagens que vão me transportar para um mundo feito de emoções, fantasias, sentimentos diversos, lembranças, reflexões e outras imprevisíveis possibilidades. As estrelas na calçada são momentos únicos onde Steven Spielberg  ou  Alfred Hitchcock estiveram ali. É como um ponto interceptando o fluir de um tempo e de um espaço que de outro modo não seria atravessado nem marcado.

       Também achei bem curiosa aquela mistura do célebre e do anônimo, do glamour e da vulgaridade, do sonho e da  realidade passeando pela calçada. Será Hollyood Boulevard uma rua como outra qualquer? Pode até ser.Porém os fragmentos de sonho pairam no ar e todos nós  os disputamos com vontade. Quem consegue a maior fatia? Mas eu não tenho mesmo uma resposta. Quem sou eu né?  Tratei de disputar as porções de sonhos disponíveis.  Afinal, quando se trata de sonho é  melhor pegar a oferta do que torcer o nariz porque não é de grife. Objetos materiais podem ser interessantes por encherem os olhos e serem palpáveis. Mas os sonhos, vagos  e fugidios, podem até serem desprovidos de grandes projeções materiais. Quem sabe a substância e o  combustível do sonho é muito mais o  querer e o investimento do sonhador do que elementos concretos?




quinta-feira, 7 de março de 2013

Elites desesperadas golpeiam direitos humanos

                    Acabei de constatar, estarrecida, que o deputado  Pastor Marco Feliciano ( O nome dele sempre aparece com Pastor à frente, como se fosse um título,  e olha,  não sou eu que vou tirar o título do homem) vai presidir à comissão de direitos humanos da câmara . É de se ver as pérolas que são os  discursos dele: homofóbico assumido, me saiu com os argumentos mais disparatados para defender seus pontos de vista retrógrados. É raro um tamanho monumento à burrice. Não é que o homem foi aprovado  para Presidente da Comissão de direitos humanos? Ele não tem a menor noção do que vem a ser  direitos humanos.
                   Mas  no fundo dessa lama toda,  há uma boa notícia.  Postaram no facebook ( Minha amiga Creuza S. Figueira)  um pronunciamento do deputado  Domingos Dutra insurgindo-se contra a nomeação de Marco Feliciano  e  comunicando sua renúncia à presidência. Neste pronunciamento Domingos Dutra cita uma série de conquistas e  lutas desta comissão onde   são  defendidos  direitos de várias comunidades tradicionalmente excluídas na sociedade brasileira ( negros, índios, gays, prostitutas, ateus, adeptos dos cultos dos Orixás, quilombolas, perseguidos da ditadura militar etc). A boa notícia? Pode ser que eu esteja sendo otimista demais, mas eu parto do seguinte princípio: Não foi essa nomeação um ataque? Com certeza foi, uma vez que a precariedade  do  "não pensamento" de Marco Feliciano  não passou despercebida de toda a Câmara.  Vai  ver que, no desespero para destruir algo que estava sendo eficaz, certeiro e produtivo, investiram logo em algo totalmente desarticulador e desagregador para que não restasse nenhuma esperança  de questionamentos que incomodassem   os fortes interesses elitistas que vigoram  no Brasil.
                  É, desta vez os direitos humanos levaram uma traulitada segura e provavelmente vai ser difícil segurar o baque. De ganho ficou o alerta do quanto  um movimento pró direitos humanos é importante. Acho que serve para todos nós que andamos perdidos e confusos, querendo  ajudar  na melhora do Brasil e sem  contar com uma boa proposta. Talvez direitos humanos seja uma bandeira bastante profícua para o Brasil.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Rio de Janeiro na UTI

              1º de março, aniversário do Rio de Janeiro. Os jornais, a tv, portais da internet e murais do face salpicados de inscrições de parabéns sobrepostas às imagens do Cristo Redentor. Estará o Rio de parabéns?Por ter sobrevivido  às enchentes?  aos tiroteios? às mortes por balas traçantes? à proliferação das favelas? à especulação imobiliária? às cracolândias?
                Parabenizo  aos moradores  do Rio por conviver  pacientemente com a depredação, o abandono e o descaso  em relação à paisagem e ao ser humano.  O Rio é um paciente enfermo que necessita  de políticas de moradia, de transportes, de saúde, educação. E isto só para abordar o que é primordial. Faltará ainda trazer para a cidade  todo o progresso que anda aí pelo mundo. Quando digo  "cidade", por favor entendam: Todos os habitantes de todas as classes sociais e de todos os bairros, não somente para um grupinho  social e economicamente favorecido, nem somente para a zona sul.  O Rio de Janeiro é totalmente merecedor dos recursos modernos  e inovadores  em todos os serviços  e campos da atuação humana. Mais uma vez, deixe-me frisar: Rio de Janeiro, quer dizer, todos os habitantes  de todos os bairros e classes sociais (só não menciono favelas porque acho que elas não deveriam existir).
               Nosso amor por nossas raízes, aguenta e continuará aguentando  as verdades horrendas que formam o Rio de Janeiro. Mas por favor, paralisar uma câmera fotográfica  sobre um único ponto e congelá-lo infinitas vezes, para fazê-lo representar  toda uma cidade  é uma mentira,  é explorar o Corcovado  além do que a realidade permite. A cidade não se resume ao Corcovado e ao Pão de Açúcar. A linda foto  do Cristo de braços abertos, mostra a beleza ou esconde a feiúra? Incomoda-me olhar a bela estátua e pensar nela como um esconderijo para tudo o que não saiu na foto. Asim, o Corcovado, é o negativo do Rio verdadeiro, fica sendo uma mentira que se espalha por quilômetros e quilômetros  ao redor dos seus pés.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Nossas mochilas

           Conheço uma lenda que aborda os riscos e as possibilidades da palavra: Um senhor  manda seu escravo ao mercado buscar a melhor coisa do mundo. O escravo traz língua.Logo após o senhor manda o escravo buscar a pior coisa do mundo. Novamente uma língua. Como assim? indaga o senhor. O melhor e também o pior? Então o escravo começa a argumentar: A língua transmite conhecimentos  que geram sabedoria e amor. A língua produz textos de profunda beleza filosófica que transportam para o papel  trechos iluminados da alma de seus escritores. A língua registra as lições dos colegiais, as quais, ao longo dos anos, passam de rascunhos apressados a profissões e realizações maduras. Na tradição oral encontramos as suaves canções de ninar que são como a terra e a água para fazer desabrochar o pequeno ser. Enfim, desde os bate-papos informais até as parábolas dos avatares, a palavra é como sangue correndo nas veias da civilização e do progresso. Ah! mas tudo tem seu verso e reverso, e a palavra não escapa. Tem sua face sombria: As pequenas mentiras para as pequenas traições. As mentiras dos políticos e demagogos em geral  para enganar o povo e as comunidades numerosas. As mentiras das juras de amor que escondem no mel dos sussurros os gérmens da decepção e da dor. Palavras arrogantes e desdenhosas dos embotados  que julgam o que nem conhecem.
            Esta lenda ocorreu-me porque andei recebendo uns insultos. Experiência estranha.É claro que não é a primeira vez. Como já me envolvi em conflitos, já recebi pela cara agressões, xingamentos e categorizações nada lisonjeiras. Também já emiti meus torpedos, diga-se de passagem. Mas desta vez foi diferente, dirigi-me a pessoa educadamente. Inesperadamente, recebi em  troca adjetivos desqualificadores e estúpidos. Vixe! Assim, foi a primeira vez. Fiquei bastante confusa e morta de raiva. Passados os primeiros momentos as indagações vieram. Eu só me perguntava porquê? porquê?porquê? O que existiu  ou existe em mim que levou a pessoa  a  me ver daquela forma? Penso que talvez alguma característica minha esteja contribuindo  para uma imagem tão pejorativa sem que eu me dê conta.
            Atuais tendências de pensamento dizem que não há acaso no cosmos e que tudo o que nos chega, foi atraído por nós.  Passados os momentos de estupefação e raiva,  deu pra começar a pensar. Não tenho dúvida de que atraí a ocorrência. Não sei muito bem como. Muito provavelmente as respostas chegarão com o auto-conhecimento. Pode ter sido bem desagradável, mas vou aproveitar para aprender e crescer..Participante desta humanidade doente, também carrego minha mochila de mazelas. Minha mochila não pára quieta. O tempo todo é muito remexida, revirada,, arrumada, desarrumada. Esta bagagem de sentimentos, sensações, impressões é rica e preciosa. Pra começar não contém somente as porcarias, também é composta de muitas coisas boas, interessantes, generosas e belas. Crescer é aprender a conviver com as confusões e contradições que sacodem a mochila. Gozado, às vezes enfio a mão lá dentro querendo pegar uma alegria  e pego uma tristeza. Às vezes pego bichinhos  estranhos que picam como marimbondos.Às vezes trago poemas fraternais, canções de amor, nacos de perdão que eu nem sabia que estavam lá. Na minha mochila ocorrem  alquimias incríveis, coisas de Deus e do demônio. Pode parecer esquisito, mas viver é isso mesmo.É cuidar desta bagagem que somos nós vivos, atuantes, agentes, reagentes e tudo o mais que nos cerca e representa  os mais diversos estímulos. Ninguém escapa da sua mochila. Ela faz parte de nós até a medula. Não é tão mau se entendemos a sua linguagem e o seu modo de operar. Crescer é fácil ou difícil? Não sei dizer. Crescer é crescer e nada substitui crescer.
              Sei que não carrego a minha mochila com a leveza de uma bailarina nem com a destreza de um atleta. Mas a localizo bem nas  costas e mantenho o equilíbrio . Respeito a hora de parar e de pedir ajuda. Desta vez enfiei a mão lá dentro e puxei uma fatia de compreensão para comigo e para com o outro . E veio também um imenso tecido de fé, perdão e confiança no criador onipresentemente presente em nossas vidas que nos conforta e nos mostra o horizonte  infinito quie se prolonga numa fonte de dádivas. Veio também um aviso para prestarmos atenção, porque muitas vezes alguns conteúdos da mochila arreganham a fuça como serpentes mas não passam de inofensivas e tolas minhoquinhas.