segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os vagabundos iluminados



             Jack Kerouac já não me  é tão desconhecido assim. Até agora li                                 
"Os hipopótamos" e  estou terminando  "Vagabundos iluminados". Este  último me parece  bem  melhor. Tom de leveza e diversão.Particularmente eu gostei muito disso. Existe sim, um gosto, um sabor especial  em achar algum sentido na vida . Assim como se de repente uma ficha caísse  e preenchesse  algum lugar dentro  de nós. Uma sensação de  que duas pontas  de um circuito fossem interligadas. E aí o que antes era vazio agora está preenchido de um jeito um tanto quanto  consistente. Creio que o trecho abaixo ilustra o que eu tentei  expressar:

           "Seguimos em frente,  e me senti imensamente feliz pelo fato  de a trilha ter uma  espécie de aparência imortal,  naquele já começo de tarde, pelo modo  como a encosta  coberta de capim  da colina parecia estar imersa em uma nuvem de pó de ouro antigo, e os insetos se agitavam  sobre as pedras  e o vento suspirava em passos  de dança brilhantes sobre as rochas aquecidas, e pela  maneira  como a trilha de repente entrava  em uma parte fresca e sombreada  com árvores  altas  que se erguiam , e ali a luz era mais  profunda".

                            O conflito  e a crítica  têm seu lugar. Romances densos são interessantes e podem  ser bastante ricos. Mas o que seria de nós  pobres leitores, se de vez em quando alguém não lembrasse  de escrever um livro   que apenas divertisse? Leveza,  alegria e prazer não comprometem  a qualidade estética (putz, acho que alguns  autores pensam que sim).

                            Em ambos os romances o ambiente  é  muito importante, uma vez que ele quase  não muda. É assim como se fosse a coloração da narrativa. Em  "Vagabundos iluminados" a natureza  verde e viçosa das montanhas foi uma escolha  feliz. Confesso que achei aquela peregrinação  de bar em bar do "Os hipopótamos" meio enjoativa. Fruto talvez da minha pouca atração pelos bares.

                           Até onde entendi  o tema do livro  é qualquer coisa  que possamos chamar  de felicidade ou pelo menos bem estar. Não se trata de receitas. Ele não diz: " Vá para a montanha, caro leitor, e serás feliz". A declaração dele é mais  "eu fico feliz numa montanha, eu fico feliz fazendo isso e aquilo". Trata-se do que é ser feliz para  ele. Ray Smith é feliz como quer ou pode, ou até onde quer ou pode. Se a gente ver bem, isto é o oposto  de  recomendações  ou doutrinas, ou sei lá o quê.  A felicidade é tão pessoal, mas tão pessoal, que só pode ser uma pessoa consigo mesma.  Os personagens principais  são vagabundos  andarilhos que vivem num  barraco, não acreditando em dinheiro, emprego, status social etc. Embora a crítica contra estes valores  seja  até  profunda, não  há uma construção literária  com  esse  discurso. Literariamente  ele não toma esse caminho,  o que poderia resultar um texto repetitivo  e talvez  sem  impacto. Felizmente aqui nesta  esquina ele faz um  desvio  oportuno e esquece esta vertente.  Afinal, quem pode definir  o que é conveniente, certo ou errado nesta vida? Quem terá  respostas para  nossos dilemas  sejam eles de quaisquer  natureza? Há  pessoas  felizes  ou  infelizes  por aí  sejam  elas  vagabundos, andarilhos, burgueses,  místicos, materialistas, etc.Muito menos eu posso acrescentar nesta felicidade  de Smith e  Japhy o que eles mesmos nunca disseram:  que felicidade é não chorar,  não passar necessidades, não ter a vida cheia de lacunas. Esses personagens, ao contrário, não alimentam  muitas expectativas  de viver nesta situação. Aí seria mais acomodação que felicidade.

                          Os  personagens principais, Ray Smith e Japhy Ryder, relatam  uma adesão  ao Budismo, desejam o Nirvana, se dizem bodisatvas ou "Vagabundos do Darma".

                          O que começo a pensar   é que talvez  a literatura Beatnik  prega viver  como grande religião ou filosofia.  E nesta religião há momentos  marcantes  em que a gente  vê que não há  respostas. Ou pelo menos  elas não estão prontas e muito menos  uma resposta pode servir  para todos.


Os vagabundos iluminados
Jack Kerouac                            

Um comentário:

  1. OI AMORA LYS,

    não lí mas, depois desta sua sinopse, não dá para resistir.

    Um abração carioca.

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