quarta-feira, 4 de abril de 2012

Geração beatnik

                 Continuo na minha fase de conhecer os poetas beatnik.  Li algo sobre Jack Kerouac,   William Burroughs  e Allen Ginsberg. Notei que é meio como um quebra-cabeça.  As pessoas são meio lendárias e os textos de ficção se misturam  às vidas. Nem sempre  é possível separar  suas vidas dos  romances e dos poemas. Os ensaios biográficos falam  sobre  aventuras nos alojamentos  das Universidades, álcool e outras drogas, ligaçoes sexuais  de vários matizes, projetos, idéias, etc. Curioso ver que uma vida  pode conter vários romances e que os romances  podem  pontuar destinos  aqui e ali.

                 Acabei de ler  "E os hipopótamos foram cozidos  em seus  tanques", que   transforma em romance o assassinato de  David Kammerer  por  Lucien Carr. William Burroughs  e  Jack Kerouac, na pele  dos personagens  Will Dennison  e  Myke Ryko, assumem alternadamente a redação dos capítulos. Para Lucien Carr  criaram Philipe Tourian  e para  David Kammerer  criaram Ramsay Allen. Durante a leitura senti como se meu trabalho fosse unir fios soltos. Meio perturbador.  Nunca sabia muito bem quem, estava falando,  se  Mike Ryko  se  Jack Kerouac. (Ou melhor, se a pessoa,se o personagem. Nunca vai se saber).Às vezes  parece que a narrativa  nos traga para dentro  dela, nos levando para um roteiro  de bares de calçadas  de Nova York.  O que  encontraremos  no próximo bar, na próxima rua, na próxima esquina? Pode ser meio  imprevisível  e perturbador mas é  quase impossível não ir. É como um desafio que faz sentir mais forte o gosto da vida. O que eles fazem é como futucar um  vespeiro. Creio que eles gostavam disso. O que é a vida senão isso? Um vespeiro. Não convém futucar sem critério. Mas acho que eles  tiravam um divertimento especial  de ficar futucando só para  ver as vespas se assanhando.Às vezes é preciso se ferir  para se sentir mais vivo ou para ver no que dá. Comer vidro é outra metáfora significando mais ou menos a mesma  coisa:

              "Philip  mascou  bastante seu vidro e depois engoliu  com a água de Agnes.Aí Al comeu um pedaço também e dei a ele um copo d'água  para ajudar a engolir. Agnes me  perguntou se eu achava que eles iriam morrer, e eu disse que não, que não havia perigo se você mastigasse bastante; era  como engolir um pouco  de areia. Todo aquele papo de pessoas  que morriam de mascar vidro  era  boato."

              Talvez eles quisessem  viver o que era necessário  sem muitas proteções. O tempo todo eles estão sujos, as casas sujas,  os copos sujos. Se sujando com a vida. Se não for  assim que graça tem? É como se eles rejeitassem as  situações antissépticas. A vida com suas situações  confortáveis ou não, fáceis ou difíceis, dolorosas ou prazerosas é sempre a vida  e se contaminar com ela  é uma maneira de ser autêntico. Ao ler, tive a sensação  de pegar carona nesta  atitude ousada  de se contaminar com a vida:

              "Quando ela lhe segredou  que o marido era traficante  de drogas e de mulheres, ele disse: " Meu Deus! e apertou   sua mão."você é a mulher  mais corajosa  que eu já conheci".
              Ora, acontece  que o Sr.Tourian  também tinha os olhos  voltados  para o novo  mundo. Eram  tantos os seus  negócios  que o número  de pessoas ressentidas  com ele,  por  motivos  reais ou imaginários, alcançava proporções  incontroláveis. Aí ele começou a se meter com um funcionário do consulado americano. Desnecessário dizer,  ele não tinha  a intenção de  seguir  os  exaustivos  passos  recomendados  pela lei da imigração americana."

             Muitos escritores fazem isso. Aliás, essa sede de vida é bem própria da literatura. Mas  " e os hipopótamos"  o faz o tempo todo e de um jeito especial. A  contaminação é assim  como um personagem principal. Até certo ponto é interessante.


E os hipopótamos foram cozidos em seus  tanques
William S. Burroughs  e  Jack Kerouac

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