sábado, 31 de março de 2012

Exclusão social gera auto exclusão IV

                                            Talento de casa também faz milagre

           Dia destes fui a uma reunião  em casa de um amigo. Dentre os visitantes  um menino  de  nove anos acompanhado  de seu violão, com o qual  já  tinha uma certa destreza. Puxei conversa:
__ você sabe tocar violão?
__ Mais ou menos.
__ Está na escola de música?
__Não. Não precisa estudar não. É só acompanhar pela cifra e ir tocando.

           fiquei admirada  e contente  pelo  talento  dele ( um dom  excelente,  inato para a música). Porém,  alarmada com tanta inocência.  O menino está  completamente desavisado.  Isto  é muito  natural devido  à sua  condição de criança.  O que não me parece natural e me deixa ouriçada como um porco espinho, é o vazio, a ausência de algo ou alguém  que esteja explicando, mostrando-lhe até onde este talento pode levá-lo  no seu amadurecimento   como ser humano, ser espiritual,  como fonte de gratificação, ganha pão  ou até sucesso. Não é muito difícil deduzir  que a família não está muito atenta no sentido de aproveitar,  borilar  este talento. Sei  bem  que as oportunidades  de estudar e se aperfeiçoar não são abundantes  na sociedade brasileira. Não sou insensível  para  as dificuldades  de se criar um filho  nem  para  perceber como oportunidades de estudo  e aperfeiçoamento  não são assim tão  disponíveis. Mas para este menino  até que o estudo  não  é  tão impossível. Ele não está  numa cidadezinha  do interior  do Nordeste,  nem é filho de pais miseráveis e analfabetos. Os  fatores  de exclusão   não são brutais  na vida dele.  Também não faltam escolas de música no  Rio de Janeiro. Há até programas  de ensino gratuito. No entanto,   não vejo  nenhum movimento para criar uma ponte entre o menino e seus mestres  de  música. Para agravar  a escassez  de oportunidade  temos  a inabilidade para aproveitar o pouco que se tem. O problema  é que nós,  o povo brasileiro,  não parecemos  alertas  sobre o quanto  vale um talento e que o talento não está só na televisão, pode estar dentro de casa também.

        Nem sempre  é assim no Brasil. Há segmentos  e grupos sociais ou  indivíduos  com um senso de oportunidade bastante aguçado. O comportamento  alienado em relação às oportunidades, até onde  consigo perceber,  é característico de grupos  mais  marcados pela  exclusão social, ou seja,  negros e/ou pobres, pois no Brasil os negros são pobres e pobres de pele clara vivem em idênticas condições.

        É bem provável que  com o passar dos  anos este menino se dê conta  de que tinha um dom a trabalhar. Pode ser que  "caia  a ficha" e  ele  veja que teria  feito  melhor,  se tivesse amparado  seu talento com  estudo  e auxílio de mestres. Será  benefício da sorte se isto  acontecer na juventude,  quando ainda  estará   saudável  para sair de casa  sob sol,  chuva  e outros desconfortos  para  frequentar  aulas.  Se também  já  não tiver  filhos com  outras tantas necessidades  que também precisarão ser abordadas de preferência  com  informação,  experiência e acuidade.

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