quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cotidiano de um planeta

alguém desiste
alguém  persevera
alguém assassina
alguém é assassinado
alguém  fecha a  torneira
alguém se despede
e não volta  mais
alguém volta e
fica para  sempre
uma criança chora
outra balbucia
outra ri
outra  morre
alguém abre um livro
alguém fecha
a tampa de uma caixa
alguém não tem pão
alguém não tem casa
alguém compra um castelo
alguém rouba uma banana
alguém  é  condenado à   morte
por um crime que não cometeu
alguém é condenado à morte
por um crime que cometeu
alguém comete um milésimo crime
e  ninguém  fica  sabendo
ou todos ficam sabendo
mas ninguém faz nada
alguém troca a camisa
compra um  sapato
lê um  revista
liga a TV
fecha a  bolsa
senta ao piano
vai  acampar
vai trabalhar
chuta uma bola
fica feliz
chora
o trivial, a tragédia e o encanto
ferem nossos dias
por cidades e campos
sam sabermos uns  dos  outros
o assassino não sabe de quem
se  despediu
quem sentou ao piano não
viu quem foi assassinado
experimentamos todos
a dor e o prazer
de sermos sós e únicos
procurando através
das brumas, das cinzas,
dos telejornais, das palavras, dos gestos
o irmão que perseverou
o irmão que matou
o irmão que leu a revista
a criança que brincou
com estrépito, ânsia ou silêncio
sonhamos, buscamos ou abandonamos
um dia,  quem sabe?
as notas desafinadas
desta sinfonia desajeitada
soem  numa freqüência
mais condizente
com o amor e a paz
e mesmo longe da perfeição
sejamos
um pouco menos fechados
um pouco menos separados
um pouco menos estranhos
um pouco melhores
um pouco mais fraternos
um pouco mais próximos

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