terça-feira, 3 de maio de 2011

Eu, Bin Laden, Charlie Chaplin e Carlos Drummond de Andrade

Alguém pode me perguntar "Por que Charlie Chaplin hoje?", já que o assunto  do momento é a suposta morte  de Osama bin Laden. Bem, não  que haja algum motivo especial. Para mim, todo dia é dia de Charlie  Chaplin.
Aproveito e uso um viés maravilhoso: A poesia de Carlos Drummond de Andrade.
Neste poema CDA, escreve  a respeito do quanto  os filmes  de Chaplin ajudaram-no  a crescer e a viver alimentando seus  sonhos e sua proposta  de colaborar  para a paz da humanidade.
Para mim é uma  oportunidade  juntar  os dois. São dois  artistas  divinos. O talento  e a  criatividade  deles  não  tem  limite. Cada  obra,  tanto   de  um  quanto  de  outro,  são  jóias  preciosas  onde  o melhor  do  sentir  e  do   pensar  se  adicionam   e  se   combinam  bela  e  harmoniosamente.  São obras   primas   que   expressam   os  valores   mais    positivos  da  vida,  como  amor,   paixão,   afeto,  fraternidade,   doçura   e  poesia.

Canto ao homem do povo Charlie Chaplin

Era preciso  que um poeta  brasileiro,
não dos  maiores,   porém  dos  mais  expostos  à  galhofa,
girando  um   pouco   em  tua  atmosfera  ou  nela   aspirando   a   viver
como  na poética    e     essencial    atmosfera   dos  sonhos   lúcidos,

era  preciso  que  este  pequeno   cantor  teimoso,
de ritmos  elementares,  vindo  da  cidadezinha  do  interior
onde   nem  sempre   se  usa  gravata  mas   todos  são   extremamente  polidos
e  a opressão   é   detestada,  se  bem  que  o   heroísmo   se  banhe  em  ironia,

era preciso que um  antigo   rapaz  de  vinte anos,
preso  à  tua  pantomima  por  filamentos  de  ternura  e  riso  dispersos  no  tempo,
viesse  recompô-los e,  homem  maduro, te visitasse
para  dizer-te  algumas  coisas,  sob   color   de   poema.

Para  dizer-te  como  os  brasileiros   te  amam
e que nisso,  como  em  tudo  mais,  nossa  gente   se    parece
com  qualquer  gente  do  mundo __ inclusive  os  pequenos  judeus
de  bengalinha  e  chapéu-coco,  sapatos  compridos,   olhos  melancólicos,

vagabundos  que  o  mundo  repeliu,  mas  zombam  e  vivem
nos filmes,   nas  ruas   tortas  com  tabuletas: Fábrica,  Barbeiro,  Polícia,
e vencem  a  fome,  iludem  a  brutalidade,   prolongam  o  amor
como  um  segredo dito  no  ouvido   de   um    homem   do   povo caído  na  rua.

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Falam   por  mim  os   que   estavam    sujos    de  tristeza  e   feroz   desgosto de  tudo,
que   entraram   no   cinema   com  a  aflição  de   ratos    fugindo  da  vida,
são  duras  horas  de   anestesia,   ouçamos    um   pouco   de  música,
visitemos  no  escuro  as imagens __e   te   descobriram    e   salvaram-se.

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