quinta-feira, 26 de maio de 2011

Umbanda querida

               Lembro-me     bem  daquele  dia  distante  lá  na  Ilha  do  Governador.  Eu tinha mais ou menos 13 anos,  mas  o evento  está  muito  vivo  na minha  lembrança. Os adultos resolveram  levar  a  criançada à praia. Lá chegando, deparamo-nos  com  um  ritual  de  Umbanda. Fiquei  hipnotizada  olhando  uma médium  que  fazia  um  transe  de  Iemanjá. Quedei  muito  admirada  diante  daquela pessoa  fora de si,  mas não desgovernada;  ao  contrário, dançando  e  gesticulando  movimentada  por  uma  força  que  parecia   maior  do que  ela.  Eu  ali num  encantamento  só. Tudo magicamente  sedutor. A música, as roupas brancas, a  energia  que  pairava   sobre  os  médiuns  em   transe, o ritmo  dos  atabaques.
               Bem  verdade  que  a  minha  volta  ninguém  parecia  perceber  nada  disso.  Até  onde  entendi, o  ritual  não  foi  significativo  para   mais  ninguém.  Os  adultos  compenetrados  em  distribuir  pão com mortadela  e   impedir  que  a  garotada  aprontasse..
               Mais  para  o final da  tarde tanto o ritual quanto o nosso  passeio  acabaram. voltei para casa com aquelas imagens  na retina. Décadas depois a visão das pessoas dançando ainda povoavam minha imaginação. Até procurei em alguns  terreiros  a magia  daquele  antigo ritual.  Porém, não tive muito êxito. As experiências  não  foram  positivas. Eu  continuava  encantada com os Orixás  e  sabia  que  o som  dos atabaques era muito conhecido da minha alma,  mas  não  fiz  nada  acontecer. Hoje  compreendo  que não confiei  no  meu  coração (andava muito atrasada  na arte de seguir esta bússola).Os anos foram  passando  e eu já havia  desistido  dos  Orixás,  quando  a   mão  do acaso,  num  gesto  de generosidade  levou-me  até  a   "Cabana do Pai Miguel das Almas."
               A  Cabana do Pai Miguel  é um  templo  pequeno  e  simples  na  Zona  Oeste do Rio de Janeiro. É  um  lugar onde todos,  não  sendo  de  maneira  nenhuma  perfeitos,  procuram  fazer seu  melhor.  O  astral  é  maravilhoso  e todos  que  o  visitam  se  sentem  muito  bem  lá.  Hoje,  agradeço a  Deus  por ter conhecido  esta  casa. Depois de muito esperar,  finalmente  posso  participar  de  rituais  belos  e  profundos  e viver  momentos  de  preciosa   comunhão  espiritual.  As  palavras  parecem   falhar  quando se trata de  expressar  a  força   e   amplitude  das  experiências  transcendentais.   Só     quando         nos
permitimos  sentir  e  participar,  compreendemos  a  grandeza   de   um   ritual. Os atabaques  chamam  os  Orixás,  os  cânticos  sucedem-se.  Podemos  manifestar  livremente o que somos,   produtos  de  três   raças  no  Brasil,  criaturas  cósmicas  experienciando  no  planeta  terra. Na paz do nosso templo  podemos  realizar   o que  as  estruturas  mantenedoras  do Status Quo,  tanto  reprimem  e  negam  aos que  cultuam   os  Orixás: Simplesmente SER.
              Seguimos  enlevados  nesta  aliança   que   promove  não só  o  resgate  de   nossa  história  coletiva, como  também   o  encontro com  nossa   história  individual.  São muitos   momentos   de  convivência  prazerosa  com  nossas  entidades.  Seus  conselhos   e  abraços  têm  sido   consolo  e  orientação  para  seguirmos  a  jornada  terrena. Além dos  Orixás; pretos velhos, caboclos,  exus catiços, ciganos. Amigos  que  sob  estas  identidades  astrais,  se  aproximam   aqui  desta  dimensão  para  nos  dispensar  amor  e  carinho.
             Acredito que todos os irmãos de fé  sentem  parecido. Nossa vida  não  seria  a  mesma  sem  a companhia  de nossos  guias. São  mestres,  irmãos  mais  experientes ou  mesmo companheiros  de  aprendizado predispostos a  ajudar, e que  assim  o  fazem   dedicada   e  calorosamente. Que a Suprema   Divindade  Pai-Mãe, Orixás Sagrados e  entidades  estejam  conosco  emanando   as  melhores  vibrações. É muito bom  contar com eles  que estão sempre  intencionando  e  torcendo  para  o  nosso sucesso.
             Saravá Umbanda!

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